Título: Dengue: mudança de comportamento
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Fonte: Correio Braziliense, 13/01/2011, Opinião, p. 22

Visão do Correio

A dengue volta a assustar o país. Segundo o Ministério da Saúde, 16 estados se encontram em situação crítica. Entre 2009 e 2010, mais de um milhão de pessoas podem ter contraído a doença. Comparando-se com os dados do ano anterior, o resultado assusta. O registro de casos praticamente triplicou. O de óbitos quase dobrou ¿ 298 contra 592. As cinco regiões do país debatem-se com o drama. Das 27 unidades da Federação, Minas Gerais liderou o ranking de ocorrências. Contabilizou 207.142 infectados.

A situação mobilizou o Palácio do Planalto. Treze ministérios atuarão em ações de enfrentamento da enfermidade. Verba de R$ 1,08 bilhão poderá ser aplicada nas medidas de prevenção e assistência aos pacientes. Trata-se de plano emergencial cujo objetivo principal é manter o mal sob controle. As chuvas que castigam o Sudeste e o Centro-Oeste acendem sinal verde para a proliferação do Aedes aegypti, mosquito responsável pela transmissão da dengue.

Como nos anos anteriores, a melhora do tempo levará à melhora dos indicadores. Não seria o caso de mudar o paradigma? As chuvas de verão são tão certas quanto dois e dois são quatro. Em vez de apagar incêndios, é mais racional prevenir as chamas. Fatores de risco divulgados pelo governo traçam o caminho. No Norte e Nordeste, concentram-se na precariedade do abastecimento de água. No Sul e Sudeste, nos depósitos domiciliares (vasos, pratos de plantas, potes com água para animais domésticos). No Centro-Oeste, acúmulo de lixo.

Todos, como se vê, têm um denominador comum ¿ a importância da colaboração das pessoas para vencer a guerra. Além de campanhas educativas adequadas a cada realidade regional, impõe-se mudar o comportamento de crianças e adultos. A escola exerce papel fundamental no processo. Meninos e meninas devem aprender cedo a convivência saudável no meio em que vivem. Caixas d´água precisam ser tapadas. Flores e plantas mantidas em casa têm de prescindir de pires ou recipientes de água. O lixo exige dupla ação. De um lado, eliminar o hábito de jogar copos, pratos, garrafas, sacos plásticos, casca de ovos em áreas descobertas. De outro, a coleta e o tratamento regular dos resíduos.

Mudar o comportamento constitui tarefa difícil. Lenta, implica dar dois passos pra frente e um pra trás. Não raro imita o caranguejo. Anda para os lados. Por isso exige determinação e persistência. Tal qual a campanha contra a poliomelite, o combate à dengue deve tornar-se política de Estado, não de governo. A Organização Mundial de Saúde cita o Brasil como modelo na concretização de campanhas educativas. Significa que sabemos fazer. O desafio: querer fazer.