Título: Strauss-Kahn defende emergentes
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 10/09/2007, Finanças, p. C10

O ex-ministro da Economia francês Dominique Strauss-Khan fez na semana passada uma defesa enfática da ampliação do peso dos países emergentes nas decisões do Fundo Monetário Internacional (FMI), num esforço para angariar simpatia em sua campanha pelo cargo de diretor-gerente da instituição.

Strauss-Khan, cuja candidatura foi lançada pelos 27 países que formam a União Européia, não precisa dos votos das nações em desenvolvimento para vencer a disputa pelo posto. Mas sua iniciativa é um sinal de que ele vê com preocupação o crescente desconforto de países como o Brasil com a atuação do Fundo.

Numa mensagem divulgada em seu site na internet na quinta-feira, Strauss-Khan apresentou-se como "o candidato da reforma", afirmou que o crescimento dos países emergentes fez surgir uma "nova geografia econômica" nos últimos anos e reconheceu que esse avanço "ainda precisa ser refletido em seu poder de voto no Fundo".

Uma convenção informal estabelecida pelos países ricos depois da Segunda Guerra Mundial tem assegurado o comando do FMI a europeus desde o nascimento da instituição. Em troca, os americanos ficam com a presidência do Banco Mundial. O atual diretor-gerente do Fundo, o espanhol Rodrigo de Rato, vai deixar o cargo em outubro.

Strauss-Khan disputa a vaga com o ex-presidente do Banco Central da República Checa Josef Tosovsky, cuja candidatura foi lançada pela Rússia como um desafio à hegemonia dos países mais avançados. Até agora, ele não recebeu o apoio declarado de nenhum outro país. Os checos, que entraram na União Européia há três anos, avisaram que vão votar em Strauss-Khan.

Em sua mensagem na internet, o candidato francês defendeu a necessidade de reformas mais profundas na instituição do que as promovidas por Rato em sua gestão. No ano passado, os sócios do FMI aprovaram aumentos nas cotas de quatro países emergentes (China, México, Coréia do Sul e Turquia) e começaram a discutir mudanças nas fórmulas que regulam a distribuição dos votos na instituição.

Várias alternativas foram debatidas nos últimos meses, mas a resistência dos países europeus tem impedido que se chegue a um acordo. Eles são os que mais têm a perder com um rearranjo que dê mais espaço para os países em desenvolvimento. A França e o Reino Unido são os países que mais têm resistido a mudanças na divisão das cotas. "Nós deveríamos ir mais longe e buscar prontamente um acordo que dê aumentos significativos para os países cujo dinamismo e papel crescente na economia mundial não é refletido apropriadamente na distribuição das cotas, ao mesmo tempo assegurando que todas as categorias de países tenham voz suficiente", disse Strauss-Khan.

O candidato francês apresentou como sugestão uma mudança que daria mais peso aos países emergentes sem necessariamente mexer nas cotas. Ele propõe a adoção de um novo sistema de votação que exigiria uma dupla maioria para aprovar as decisões mais importantes do Fundo. Numa votação cada país teria o número de votos correspondente à sua relevância econômica, como hoje. Na outra cada país teria direito a um voto.

Strauss-Khan deu a volta ao mundo em busca de apoio nas últimas semanas. Em seu site na internet, relaciona encontros com dezenas de autoridades e manifestações de simpatia que recebeu, incluindo uma do ministro das Finanças da Rússia, Aleksei Kudrin. O sucessor de Rato será escolhido neste mês pelos 24 diretores-executivos que representam os sócios do Fundo na cúpula da instituição.

O candidato francês esteve no Brasil no fim de julho, quando foi recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Brasil tem se mantido à distância da disputa no Fundo, sem se comprometer com nenhum candidato e usando o processo apenas para reafirmar suas críticas à hegemonia dos países ricos nas decisões da instituição e pedir mudanças no seu funcionamento.