Título: Samarco vislumbra nova alta de preços
Autor: Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 10/09/2007, Empresas, p. B7

No próximo ano, a indústria de mineração de ferro, principal matéria-prima da indústria do aço, deverá viver um novo ano de bonança nos preços. Essa expectativa é compartilhada por José Tadeu de Moraes, presidente da Samarco Mineração, segunda maior exportadora mundial de pelotas de ferro. A empresa tem atividade de mineração em Mariana (MG) e de industrialização em Anchieta/Ponta do Ubú, litoral do Espírito Santo.

"Nosso indicador são os atuais preços do minério de ferro no mercado 'spot', que, pela forte demanda existente hoje nas siderúrgicas, principalmente chinesas, já atingem níveis de 2005", afirma Moraes, executivo de carreira da Samarco. A mineradora é uma joint venture, 50%-50%, entre Vale do Rio Doce e BHP Billiton, respectivamente primeira e terceira maiores mineradoras de ferro do mundo.

Segundo Moraes, o valor da tonelada de minério fino de ferro no mercado spot Índia-China, há duas semanas, era de US$ 130 (preço de entrega em portos chineses). No caso da pelota, o valor alcançava US$ 150 a tonelada, nas mesmas condições. O valor médio do frete da Índia à China era de US$ 26,50. "O cenário de mercado é bem similar ao de 2005, quando os preços de minério de ferro tiveram alta de 71,5%", diz.

Analistas de bancos e consultores especializados projetam reajustes na casa de 20% a 25% para o próximo ano. No próximo mês, começam as primeiras conversas sobre o assunto. "Agora, inicia-se um jogo estratégico de cada lado, pois se avizinha o início das rodadas de negociações entre mineradoras e siderúrgicas", observa Moraes.

Há dois anos, os reajustes para as pelotas foram superiores a 80%. O produto, do qual o Brasil é o maior produtor e exportador mundial, passou a valer, em média, US$ 80 a tonelada e levou a Samarco a praticamente dobrar seu faturamento. No ano passado, houve queda de 5%, índice que foi recuperado em 2007. Com isso, passou a ser vendido entre US$ 75 e US$ 85 a tonelada, conforme as especificações de aplicação.

Na cadeia de produtos da mineração de ferro, o tipo granulado é o segundo de maior valor - de US$ 60 a US$ 65 a tonelada. Os finos, ou sinter-feed, em contratos de longo prazo, valem acima de US$ 50. O pellet-feed, minério superfino que é usado na fabricação de pelotas, tem preço próximo do sinter-feed. A Samarco comercializa entre 1,5 milhão e 2 milhões de toneladas desse material e deverá manter o volume de 2008 em diante com a expansão.

Como parte de seu segundo plano de expansão em 30 anos de atividades, completados em agosto, a Samarco irá lançar no mercado mais 7,5 milhões de toneladas de pelotas por ano partir de 1º de março de 2008. Isso não preocupa Moraes, que desde 2003 está no comando da empresa. "Já está tudo vendido, em contratos que variam de cinco a 12 anos", explica. "Se a Samarco tivesse esse volume disponível agora, venderia tudo".

O adicional de produção, que envolve uma terceira linha de pelotização em Ubú, com investimento de US$ 1,3 bilhão, torna a empresa apta a fabricar 22 milhões de toneladas por ano, sobre as atuais 14 milhões, e mais 1,5 milhão de pellet-feed. O valor envolve também expansões da mina de ferro e do mineroduto de 400 km, o qual corta 22 municípios entre Mariana e Ubú.

No próximo ano, o executivo prevê produzir e entregar 20 milhões de toneladas de pelotas. "Os clientes, de várias partes do mundo, estão com a faca no nosso pescoço para saber se está tudo no cronograma e até fazem visitas para conferir de perto as obras; eles contam com nosso produto para seus novos projetos ou expansões", comenta Moraes.

As pelotas de ferro, produto de maior valor agregado na mineração de ferro, são formadas pela aglomeração de minério superfino em gigantescos discos a temperaturas bastante elevadas. São usadas na fabricação do aço tanto por siderúrgicas tradicionais, jogadas diretamente na boca do alto-forno, ou por usinas movidas a gás natural, que utilizam o processo chamado redução direta para se obter aço bruto. Cerca de 50% da produção da Samarco atual, bem como da futura, é formada por pelotas desse tipo, cujos principais clientes estão no Oriente Médio.

Um dos objetivos da Samarco, diz Moraes, é equilibrar mais a distribuição geográfica de suas vendas. Em 2003, a China respondia por 43% do total. Vem caindo: de 28% no ano passado, 25% neste, deverá ficar em 20% a partir de 2008. Outros países da Ásia, como Japão e Coréia, ficarão com outro tanto. Por sua vez, Oriente Médio/África, subirá para 26%.

O mercado transoceânico de pelotas movimenta ao redor de 100 milhões de toneladas - a empresa tem 16% de participação e deve saltar para 20% com a expansão.