Título: Pará atrai grandes frigoríficos e eleva exportações de carne bovina
Autor: Rocha, Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 10/09/2007, Agronegócios, p. B12

De um ano para cá as exportações de carne bovina do Pará mais do que dobraram, três grandes frigoríficos anunciaram investimentos no Estado e os que já estão por lá, mas ainda não vendem ao exterior, preparam-se para fazê-lo. A grande oferta de boi é, sem dúvida, um dos atrativos da região, mas o que trouxe novo vigor à pecuária no Estado recentemente foi o reconhecimento da região centro-sul paraense como livre de aftosa com vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).

"A pecuária do Pará vive um momento interessante. Nos últimos anos, houve crescimento do rebanho, mas não havia resultados interessantes para os produtores", observa o secretário de Agricultura do Estado, Cássio Pereira. Mas os investimentos no reforço da defesa animal levaram ao novo status sanitário ao centro-sul do Estado, onde está cerca de 75% do rebanho bovino paraense estimado entre 18 milhões e 20 milhões de cabeças por entidades locais do setor.

No novo quadro, ocorreu uma dinamização do setor de frigoríficos, afirma o secretário. Grandes empresas do setor, que já abriram capital ou preparam-se para fazê-lo, instalam-se no Estado.

A primeira delas foi o Bertin, que no começo de 2005 comprou o frigorífico Marabá do grupo Frigoclass, em Marabá, onde abate 800 bois por dia. Este ano, o Bertin arrendou, com opção de compra, três unidades do frigorífico Redenção no Pará. As plantas estão nas cidades de Redenção, Santana do Araguaia e Tucumã e devem abater juntas mais de duas mil cabeças de gado por dia.

Já o Minerva, que recentemente lançou ações na Bovespa, faz um investimento de R$ 40 milhões também em Redenção. De acordo com o presidente do conselho de administração do Minerva, Edivar Vilela, a unidade de abate terá capacidade para 800 cabeças/dia e também fará desossa. A planta, adquirida do empresário Paulo Costa ainda em construção, deve começar a operar em seis meses. "O Minerva, como uma empresa de capital aberto, tem de crescer. E o Pará tem boi", afirma Vilela, para explicar a aposta no Estado.

Por enquanto, o reconhecimento do centro-sul do Pará como área livre de aftosa com vacinação abriu os chamados países da lista geral - como os do Oriente Médio - para a carne bovina da região. Mas a expectativa é de que a União Européia também venha a importar. "A UE deve habilitar [frigoríficos do Pará]", afirma Vilela.

Também atrás de maior oferta de matéria-prima, o gaúcho Mercosul constrói planta para abate de 1,5 mil animais/dia em Tucumã. Em entrevista ao Valor, em julho, o presidente da empresa, Mauro Pilz, disse que a obra deve estar concluída até o início de 2008.

Além de atrair investimentos, o reconhecimento pela OIE fez as exportações de carne bovina do Estado saírem de US$ 8,796 milhões entre janeiro e julho de 2006 para US$ 19,248 milhões no mesmo período deste ano.

Para o presidente da Federação de Agricultura do Pará, Carlos Xavier, afora o novo status sanitário do centro-sul do Pará, o foco de aftosa no Mato Grosso do Sul, em outubro de 2005, também beneficiou as exportações paraenses, já que o Estado do Centro-Oeste sofreu embargo de vários países.

Ele observa que o avanço da cana-de-açúcar no Mato Grosso do Sul também faz a pecuária crescer no Pará, onde, diz, a arroba do boi custa 20% a 25% menos do que em São Paulo, por exemplo. Segundo a Scot Consultoria, no último dia 6, o boi na região de Marabá estava cotado a R$ 54 a arroba ante R$ 63,50 na região de Barretos (SP).

Segundo Francisco Victer, presidente da União das Indústrias Exportadoras de Carne do Pará (Uniec), a nova condição sanitária do Estado faz com que frigoríficos que já estavam na região se adequem para poder exportar, caso do Rio Maria e do Eldorado, que fizeram investimentos nas plantas para exportar para os países da lista geral.

Ele considera natural a aposta dos frigoríficos no Estado, já que a pecuária procura áreas novas. Afirma, no entanto, que "um fenômeno" do Pará, a exportação de animais vivos preocupa. "[A exportação] diminui a oferta de matéria-prima para a indústria que está em expansão", afirma Victer. Até julho deste ano, as exportações brasileiras de bois vivos somaram 177,7 mil cabeças, 92,8% provenientes do Pará. O volume é 8,9% superior ao de igual período do ano passado, e os principais destinos são Líbano e Venezuela. O Pará tem hoje 29 frigoríficos, 12 deles com Sistema de Inspeção Federal (SIF).