Título: Lula culpa os Estados Unidos pela crise e chama mercados de cassino
Autor: Saccomandi , Humberto
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2007, Financeiro, p. C2

Ricardo Stuckert / PR Lula, ao lado da presidente da Finlândia, Tarja Halonen: "Não aceitaremos que joguem nas nossas costas os prejuízos" Numa declaração particularmente dura contra os Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva responsabilizou ontem o governo americano pela recente turbulência nos mercados financeiros internacionais, aos quais chamou de cassino. Ele exortou os bancos centrais dos países desenvolvidos a assumirem os custos da crise. "É um problema [a crise nos mercados] da política econômica dos Estados Unidos, da ganância de alguns fundos de investimentos que quiseram comprar títulos de risco imaginando que estavam num cassino e tiveram prejuízos. E nós não aceitaremos que joguem nas nossas costas os prejuízos de um jogo [do qual] não participamos", afirmou Lula.

A declaração foi feita em Helsinque, pela manhã - antes da abertura dos mercados no Brasil -, durante a assinatura de um memorando de entendimento sobre mudança climática com a presidente da Finlândia, Tarja Halonen, que se limitou a dizer que seu país não estava sendo afetado pelas oscilações nos mercados. "[Os investidores] apostaram mal e, se o lucro não foi repartido, muito menos queremos repartir os prejuízos", completou Lula. "Quem criou a lei de financiamento foi o governo americano. Portanto, quem vendeu as facilidades assuma as dificuldades."

O presidente repetiu várias vezes ontem que o Brasil tem US$ 160 bilhões em reservas e está tranqüilo diante da crise. Sem detalhar, Lula pediu medidas dos bancos centrais dos países ricos. "É preciso que os bancos centrais dos países envolvidos nessa situação assumam o mais rapidamente possível a responsabilidade pela solução dessa crise, para que não tragam prejuízo para países como o Brasil, que passaram décadas sem crescer. Agora não podemos jogar fora essa oportunidade, por causa de apostadores que tentam ganhar dinheiro fácil, em vez de ganhar dinheiro trabalhando", disse.

O Fed (banco central americano) já reduziu sua taxa de juros inesperadamente e deve continuar com os cortes, segundo avaliação unânime nos mercados, com o aparente objetivo de evitar uma recessão nos EUA. O BCE (Banco Central Europeu) parou de elevar sua taxa de juros. Além disso, os dois bancos centrais, além do Banco do Japão (o BC japonês), estão garantindo liquidez aos mercados.

Mas não há sinais de que possam adotar alguma medida específica para inibir possíveis fugas de ativos em mercados emergentes, como o Brasil. Tampouco o governo americano vem atuando nesse sentido, limitando-se a tentar acalmar os mercados.

Até a noite de ontem, nenhuma autoridade americana havia comentado oficialmente a declaração do presidente brasileiro.

Lula iniciou ontem, pela Finlândia, uma visita de Estado de cinco dias por quatro países nórdicos. Hoje o presidente vai à Suécia, onde fica por pouco mais de 24 horas. Amanhã ele chega à Dinamarca. A última etapa será na Noruega.