Título: Planalto articula licença de Renan
Autor: Ulhôa, Raquel ; Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2007, Política, p. A8

Ueslei Marcelino / Folha Imagem Renan Calheiros: Governo acredita em absolvição, mas espera que senador se licencie em seguida Apesar da aparente onda favorável à cassação do mandato do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o Palácio do Planalto ainda acredita na absolvição do pemedebista na votação secreta marcada para amanhã, no plenário da Casa. Uma vez salvo o mandato, no entanto, o governo espera um gesto de Renan: sua licença do cargo, para evitar turbulências nas votações.

Com um eventual pedido de licença, Renan seria substituído durante seu afastamento pelo senador petista Tião Viana (PT-AC), vice-presidente da Casa. Em caso de renúncia - solução ainda defendida por alguns aliados seus como forma de sensibilizar os colegas a preservar seu mandato -, teria de haver eleição para um novo presidente do Senado. E o Palácio do Planalto teme que a presidência do Senado saia do PMDB e termine nas mãos de um oposicionista.

Apesar da proteção do governo, Renan não conta com o apoio fechado da base aliada no Senado. Entre os 12 senadores do PT, por exemplo, seis são tidos como votos prováveis pela cassação: Eduardo Suplicy (SP), Paulo Paim (RS), Paulo Paim (RS), Augusto Botelho (RO), Flávio Arns (PR), João Pedro (AM) e Delcídio Amaral (MS). Um dos relatores do parecer que pede a cassação é Renato Casagrande, do PSB do Espírito Santo.

Por meio da assessoria, Renan voltou a negar, ontem, "com veemência", qualquer possibilidade de afastamento da Presidência do Senado - o que inclui licença ou renúncia. De acordo com seu entendimento, o gesto seria "traição" aos 51 votos que teve em sua reeleição, além de representar uma espécie de admissão de culpa. Um dos senadores que defendem a renúncia é o pemedebista Mão Santa (PI).

Nem mesmo o PMDB está fechado com Renan. O senador Garibaldi Alves (RN), que hoje revelará seu voto, previu que os dissidentes da legenda serão mais do que os conhecidos - Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS). Para que Renan perca seu mandato, 41 dos 81 senadores têm que votar pela cassação. Na avaliação da oposição, o pemedebista conta hoje com 35 votos certos a seu favor. A expectativa é que o placar seja apertado, pela cassação ou pela absolvição. A Constituição determina que o voto seja secreto.

Pelo Regimento Interno do Senado, a sessão toda tem que ser secreta, aberta apenas a senadores, a dois assessores da Casa, a um advogado de Renan e a um representante do PSOL, partido autor da representação que gerou o processo contra Renan no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, para investigar se um lobista pagou contas pessoais do pemedebista.

O senador Delcídio Amaral (PT-MS) protocolou ontem projeto de resolução para tentar tornar pública a sessão. Dificilmente a proposta será votada a tempo de abrir a sessão de amanhã, marcada para 11h.

Nem uma absolvição devolveria a Renan a força política e o bom trânsito em todas as bancadas que lhe deram duas vitórias para presidir a Casa. Seu desgaste é crescente desde maio, quando teve início o processo por quebra de decoro contra ele. Além das denúncias que se acumularam, o pemedebista foi acusado de manobras para tentar salvar seu mandato, irritando colegas.

O senador Pedro Simon (PMDB) ocupará hoje, terça-feira, a tribuna do Senado para pedir aos colegas que votem de acordo com as próprias consciências no processo contra o presidente da Casa, o correligionário Renan Calheiros. No seu terceiro mandato, Simon acha difícil que Renan possa apresentar algum fato novo que contribua positivamente para sua defesa. Mesmo assim, diz que não consegue fazer previsões sobre o resultado da votação. "Não sei o que vai acontecer."

Para o senador, o Palácio do Planalto já mostrou que está disposto a tudo para conseguir aprovar no Senado a prorrogação da CPMF. O que abre caminhos para todo tipo de negociação na base aliada. "Do governo, não dá para confiar em nada", declarou ontem, em Belo Horizonte, onde esteve para discutir reforma política na Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).