Título: Brasil troca baixo custo por competitividade
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2007, Empresas, p. B7

A valorização do real tirou o Brasil do mapa das regiões de baixo custo de produção de veículos. Mas isso não é de todo ruim porque o país consegue manter competitividade, segundo o presidente mundial da Renault, Carlos Ghosn. É por isso que todas as montadoras continuam apostando nas fábricas brasileiras. Presidentes mundiais de outras empresas do setor, como Rick Wagoner, da General Motors, dizem que vão continuar investindo no aumento da capacidade das linhas brasileiras. A menos de dois meses da sua primeira visita ao Brasil, o novo presidente da Volkswagen, Martin Winterkorn, concorda. Mas sugere uma carga tributária menor para a importação de carros da Europa.

Para Ghosn, na questão de baixo custo, o Brasil vem perdendo espaço para países como Turquia e Romênia. Mesmo assim, mantém-se competitivo. Ele cita que a capacidade de ser competitivo envolve também questões como qualidade da força de trabalho e produtividade. E não só custos baixos. Para ele, a nova condição também traz vantagens. "Há um tremendo desenvolvimento hoje no Brasil e foi essa capacidade de desenvolvimento que levou a uma mudança de valor da moeda e dos recursos", diz.

"O país está no curso do seu total potencial", destaca o executivo ao apontar a força na produção de metais, como aço e ferro - "insumos valorizados em todo o mundo". O presidente mundial da GM concorda. "A capacidade do Brasil na produção de commodities se encaixa bem com o que o mundo precisa hoje."

"Se esse cenário de mudança de posição de país de baixo custo para país competitivo vai por um lado provocar o desaparecimento de algumas atividades, outras vão surgir", afirma Ghosn. "As notícias são más de um lado, mas boas de outro, porque um país não pode ser de baixo custo para sempre."

Ghosn cita o caso da Romênia, onde a Renault está no limite da capacidade. "Se a Romênia entrar no euro, as pressões para que o país se equalize com o resto da Europa podem lhe tirar a condição de baixo custo". O mesmo ocorre com Turquia. "Mas é possível ter competitividade, como faz a Turquia, com um alto padrão de qualidade", explica.

O setor, portanto, continua a apostar no potencial brasileiro. Wagoner diz que a General Motors vai se preparar para fazer expansões com vistas a utilizar toda a capacidade das fábricas que já possui no Brasil. Isso significa abrir o terceiro turno. "Estamos enxergando mais crescimento", afirma.

"Eu gostaria de ter o problema que temos hoje no Brasil (chegar ao limite da capacidade) nas outras fábricas do mundo", destaca o principal executivo da Fiat Automobile, Luca De Meo. A Fiat está retomando a operação da linha de montagem na Argentina para ajudar a desafogar a fábrica em Minas Gerais, que opera no limite.

Os homens que comandam a indústria automobilística conhecem bem, no entanto, os problemas que ameaçam o crescimento do país. Wagoner lembra do risco com a energia, mas lembra que outros países "estão sabendo lidar com o problema".

Winterkorn, da Volkswagen, elogia o crescimento do mercado brasileiro de veículos. "Mas temos que perceber como está indo a conexão Mercosul e União Européia. Do nosso ponto de vista, um Imposto de Importação de 35% para produtos europeus não é aceitável", afirma, referindo-se à pressão que as montadoras de origem européia têm feito para ganhar mais flexibilidade na importação de carros fabricados na Europa. .

Há cerca de um ano, a Volks do Brasil anunciou investimento de R$ 2,5 bilhões. Uma parte dos recursos será usada nos projetos de produção de dois novos modelos de carros na fábrica de Taubaté. Winterkorn dá a entender que trará detalhes dos veículos na sua primeira visita ao país em novembro.

A repórter viajou a convite da Anfavea