Título: PIB de 5% exige 2º semestre forte
Autor: Lamucci, Sergio ; Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 05/11/2007, Brasil, p. A4

Com o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre ficou mais difícil para a economia brasileira fechar 2007 com um crescimento de 5%, como espera o governo. A taxa não é considerada impossível pelos analistas, mas vai exigir uma expansão mais acelerada na segunda metade do ano. Se não houver revisões do desempenho do PIB de janeiro a junho, a economia terá de avançar, na série com ajuste sazonal, cerca de 1,5% no terceiro e 1,5% no quarto trimestre, na comparação com os trimestres imediatamente anteriores, de acordo com cálculos de Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC, e de Alexandre Schwartsman, economista-chefe para a América Latina do ABN AMRO. No primeiro trimestre, o PIB cresceu 0,9% e no segundo, 0,8%. O mercado esperava uma variação de 1,2% de abril a junho.

Para alguns analistas, o resultado do PIB um pouco abaixo do esperado abre espaço para que o Banco Central siga em sua trajetória de cortes graduais dos juros. Há quem acredite, porém, que a expansão forte da demanda, combinada à alta dos preços de alimentos, fará o BC interromper em breve a trajetória de queda da Selic.

Bassoli manteve a previsão de um crescimento de 5,1% neste ano. Para ele, o desempenho da agropecuária no primeiro semestre ficou muito abaixo do que sugerem os números sobre a produção agrícola neste ano. Bassoli acredita que ou haverá uma recuperação na segunda metade do ano ou o IBGE vai revisar os dados de janeiro a junho, período em que a agropecuária subiu apenas 1,4% em relação ao mesmo intervalo de 2006. As previsões, diz, apontam para um crescimento de 5% a 6% do setor em 2007. Bassoli ressalta que a demanda segue em alta firme. "Ficou mais difícil crescer 5% neste ano, mas é algo factível", diz, lembrando que, no terceiro trimestre de 2006, o PIB avançou 2,8%.

A economista Thaís Marzola Zara, da Rosenberg & Associados, elevou a sua projeção para a expansão do PIB em 2007, de 4,6% para 4,8%. Ela ressalta principalmente o bom desempenho da indústria, que teve alta de 7,2% no segundo trimestre na comparação com o mesmo período de 2006 - e do comércio, que registrou avanço de 8,1% de abril a junho. "E a agropecuária também tem potencial para se recuperar nos próximos trimestres."

Parte do resultado um pouco mais fraco do que se esperava no segundo semestre se deveu à questão dos estoques, como ressalta Schwartsman. A demanda agregada cresceu 6,3% de abril a junho, abaixo dos 5,4% registrados pelo PIB. A diferença se explica pela redução na velocidade de formação de estoques, que ficou 38% abaixo do mesmo período de 2006, segundo o ABN AMRO. Para Schwartsman, o mais provável é que o PIB cresça 4,5% em 2007.

O economista-chefe do Pátria Banco de Negócios, Luís Fernando Lopes, tem uma avaliação mais pessimista. Para ele, os números do PIB mostraram uma desaceleração da atividade econômica na ponta. Na comparação com o trimestre imediatamente anterior, com ajuste sazonal, a economia vem perdendo força, afirma Lopes.

No terceiro trimestre de 2006, houve alta de 2,8%, percentual que caiu para 1,1% no quarto, 0,9% no primeiro trimestre deste ano e 0,8% no segundo. Isso equivale a uma taxa anualizada de 3,24% . Nesse cenário, Lopes decidiu revisar sua projeção para este ano de 4,6% para 4,4%. Ele acredita que a indústria e o comércio podem se acomodar no segundo semestre, lembrando ainda que o cenário externo é um pouco menos positivo. Para Lopes, o Brasil ainda enfrenta restrições de oferta que impedem um crescimento de 5%.

O consultor de análise econômica do Itaú, Joel Bogdanski, não vê riscos inflacionários no crescimento do PIB. Com o investimento em expansão e uma inflação em 12 meses ainda bem abaixo do centro da meta, de 4,5%, ele acredita que há espaço para o BC promover dois cortes de 0,25 ponto percentual nas próximas duas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). O economista Francisco Pessoa, da LCA Consultores, que estima um PIB de 4,7% para 2007, não vê razão para a interrupção na trajetória de corte dos juros, nem acredita que o BC fará isso. "O PIB não teve um crescimento desprezível, mas não é um espetáculo." Pessoa diz que o consumo privado não constitui pressão de alta dos preços, avaliando que a inflação dos alimentos, inclusive, acaba por ter um efeito de retrair o consumo. "Não há pressão que justifique uma parada no corte dos juros."

Há quem acredite, porém, que o aquecimento da economia fará o BC ser mais cauteloso daqui para frente, embora os investimentos em alta garantam maior capacidade produtiva. "A atividade é um fator de risco para a inflação. O BC tende a ser cauteloso e deve cortar 0,25 ponto na próxima reunião e depois, interromper os cortes até o fim do primeiro semestre", prevê a economista Marcela Prada, da consultoria Tendências. Além da inflação dos alimentos preocupar, o quadro internacional é um fator de incerteza, diz ela.