Título: Governo festeja 22 trimestres seguidos de crescimento
Autor: Safatle, Claudia ; Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2007, Brasil, p. A4

A boa performance do Produto Interno Bruto (PIB), no segundo trimestre do ano, não autoriza o governo a relaxar, seja na vigilância contra o recrudescimento inflacionário, seja no desempenho das contas públicas, avisou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Para ele, ao contrário, agora é hora de avançar no controle do gasto do setor público e na redução da carga tributária.

O ministro foi informado pelo IBGE, na noite da terça feira, que o crescimento do PIB chegou a 5,4% no segundo trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2006. Ele passou a informação para o presidente Lula, que estava em Estocolmo (Suécia), por volta de 1h30 da madrugada de quarta-feira, e ontem comentou: "Foi muito bom. Um crescimento acima do que estávamos esperando". Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, os dados do IBGE apontam para um crescimento "robusto e equilibrado".

Bernardo acredita que os dados do terceiro e quarto trimestres serão "talvez até melhores do que este", o que o leva a prever um crescimento superior a 5% este ano. Duas razões alimentam essa expectativa: no ano passado, no mesmo período, os trabalhadores da indústria automobilística estavam em greve - este ano não estão - e de lá para cá os juros básicos da economia tiveram queda substancial.

O crescimento do investimento, de 13,8% no segundo trimestre sobre o mesmo período de 2006, é um indicador "excepcional" que, para o ministro do Planejamento, é a prova do acerto da política econômica, com a ampliação do crédito, a redução dos juros e a desoneração de alguns impostos para o setor de bens de capital. "O empresariado está apostando que o crescimento é sustentável", avalia, e o aumento da oferta de bens e serviços, indicado pela formação bruta de capital fixo, sustentará a performance do PIB sem pressões inflacionárias. "Aparentemente, as condições para o crescimento sustentado estão dadas e não há mais o risco de ser um vôo de galinha", disse Bernardo.

Assim, ressaltou, é hora de avançar na política fiscal, sobretudo no controle das despesas correntes do governo federal. Tão logo esteja aprovada a prorrogação da CPMF e da Desvinculação das Receitas da União (DRU) para até 2011, o governo terá que iniciar um trabalho mais agressivo no Congresso para empurrar a tramitação do projeto de lei complementar nº 1, que limita o gasto com a folha de pagamento do funcionalismo público dos três Poderes, à variação do IPCA mais 1,5% ao ano até 2016. O empenho político do governo terá que se voltar, também, para a aprovação da política de reajuste do salário mínimo com base na variação anual do INPC mais a taxa de crescimento real do PIB de dois anos imediatamente anteriores. Essa fórmula deverá valer até 2011.

O ministro da Fazenda, em entrevista coletiva, afirmou que os dados mostram a existência de um ciclo sustentado que deve ser mantido no restante de 2007 e nos próximos anos e, portanto, não traz preocupações com a possibilidade de uma inflação de demanda gerada por um superaquecimento da economia.

"A inflação será sempre combatida por este governo, mas não há motivo de preocupação. O crescimento está equilibrado, com aumento da oferta e com o investimento aumentando a uma taxa que é o dobro da elevação do produto", disse Mantega.

Ele ressaltou que a elevação de 10,6% no investimento do primeiro semestre, comparado com igual período de 2006, permite o crescimento da economia com aumento da oferta. "Já podemos configurar a existência de um ciclo de crescimento econômico. São 22 trimestres consecutivos. Essa é a boa notícia. É o ciclo mais longo desde os anos 90", disse.

Os indicadores das contas nacionais deste ano desmentem, segundo avaliação de Mantega, o risco de o país estar vivendo um processo de desindustrialização ("doença holandesa"). Outro ponto importante, segundo ele assinalou, é o impacto negativo das importações (1,3 ponto percentual), menor que o 1,4 ponto do mesmo período de 2006.

Em nota à imprensa, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, salientou que o controle da inflação e o fato de o país estar mais resistente às turbulências externas ajudam nesse cenário de crescimento sustentado. A nota diz : "Pelo lado da demanda, o crescimento tem sido liderado pela expansão da demanda doméstica, tanto o consumo quanto o investimento, sem dúvida beneficiados pelo ambiente de estabilidade econômica, consubstanciado em maior resistência a turbulências externas e inflação consistente com a trajetória das metas. Pela ótica da oferta, cabe destacar a forte expansão da produção industrial".