Título: Rotatividade sobe ao nível dos anos 80
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2005, Brasil, p. A7

A rotatividade da mão-de-obra no país continua alta e volta a níveis do final dos anos 80, antes da abertura às importações, que facilitou a modernização da indústria e deixou a economia mais competitiva. Levantamento feito pelo professor Claudio Salvador Dedecca, da Unicamp, mostra que na indústria de transformação a taxa de rotatividade é de quase 28%, com tendência a subir em 2004. Esse resultado aproxima-se do apurado em 1989, quando a taxa foi de 31,3%. "A rotatividade da indústria volta a seu nível histórico e a cada três, quatro anos, roda toda a mão-de-obra empregada", diz Dedecca. A taxa total, levando-se em conta os oito setores pesquisados, mostra uma taxa de 26% em 2003, apenas dois pontos abaixo da marca de 1989.

A metodologia usada pelo professor da Unicamp, reconhecida internacionalmente, considera o número de demissões, contratações e o estoque de empregados informados pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Os dados revelam uma situação oposta a que se imaginava ter no país, passados 15 anos da abertura e 10 anos do Plano Real, que derrubou a inflação de quase 37% em dezembro de 1993 para 0,86% no mês passado. "O discurso de que a economia modernizou-se, de que há aumento da eficiência não parece ser verdadeiro", diz Dedecca, que não concorda com a afirmação de que a relação capital-trabalho melhorou nos últimos anos. A alta rotatividade da mão-de-obra é explicada, em parte, pela instabilidade econômica que ainda vigora no país. Grandes variações do Produto Interno Bruto (PIB) de um ano para outro, como a que ocorreu em 2003 e 2004, por exemplo, dificultam um planejamento de mais longo prazo nas empresas. O fato de a legislação trabalhista brasileira permitir a demissão sem justa causa também estimula a troca de mão-de-obra. Na estrutura do salário gasta-se 8% de FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para cobrir, justamente, as despesas decorrentes desse tipo de dispensa. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), os tributos e encargos trabalhistas equivalem a quase 44% do salário. O professor da Unicamp diz que não existe uma política de emprego no país. Uma idéia seria exigir das empresas que investissem de 1,5% a 2,5% de seu faturamento no aperfeiçoamento de seus empregados. Quem não fizesse o gasto, ou investisse abaixo do estipulado, teria de depositar os recursos equivalentes num fundo governamental para financiar programas de qualificação profissional.