Título: Pesquisa aponta maior temor de recessão nos EUA
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Fonte: Valor Econômico, 13/09/2007, Internacional, p. A11

Os economistas consideram que aumentou o risco de os Estados Unidos entrarem em recessão nos próximos 12 meses, por causa da continuidade da fraqueza no mercado imobiliário e da crise de crédito. Mas eles discordam bastante no que diz respeito à probabilidade de uma contração, com alguns argumentando que ela é praticamente inevitável e outros insistindo que a economia vai driblar um declínio.

Os participantes da mais recente pesquisa do WSJ.com, que foi realizada depois de um relatório divulgado na sexta-feira e que mostrou a primeira queda no nível de emprego nos EUA em quatro anos, calculam na média em 36% o risco de uma recessão ao longo dos próximos 12 meses, ante 28% um mês antes. Mas houve uma grande divergência de opiniões, com a probabilidade de uma recessão variando de 5% a 90%.

Trinta e nove economistas dizem que a chance de recessão é de ao menos 30%, e desses 11 dizem que a chance é de 50%. Na outra ponta, 13 dizem que o risco de recessão é de menos de 30%. A grande diversidade de opiniões ressalta a incerteza quanto ao efeito dos problemas financeiro e imobiliário na economia geral do país.

"A economia foi alimentada por essa rápida expansão do crédito, e acho que isso acabou", diz Steve East, economista-chefe da Friedman, Billings, Ramsey, que diz haver 60% de chance de recessão. "Esta é a mensagem da turbulência no mercado de crédito: a economia não terá tanto combustível de alta octanagem para abastecê-la."

Rebatendo essa visão está Joseph Carson, economista da Alliance Bernstein que calcula as chances de uma recessão em 5%. Ele diz que os consumidores já ajustaram seus gastos, e que uma queda forte não é provável. "Achamos que as tendências de consumo apontam para um modesto crescimento nos EUA, não uma recessão."

Os economistas prevêem uma desaceleração substancial no crescimento. Na média, eles projetam uma expansão anualizada de 1,9% do produto interno bruto no quarto trimestre. Um mês antes, estimavam 2,5%. O crescimento previsto para o primeiro trimestre de 2008 é de 2,1%, ante uma estimativa média anterior de 2,6%.

A pergunta central no debate é se a deterioração no crédito vai segurar o investimento e as contratações das empresas ou fazer os americanos ter menos condições de tomar empréstimos e gastar. E se a economia mundial - particularmente seu apetite por produtos americanos - é forte o suficiente para compensar a menor demanda nos EUA.

Alguns dados econômicos recentes, como o relatório de emprego semana passada, alimentaram parte da preocupação. Outros números recentes pintam um quadro mais promissor de aumento na atividade industrial, otimismo das empresas e forte demanda movida pelas exportações americanas.

O aumento das exportações americanas, combinado com a queda nas importações, tem compensado o crescimento mais fraco dos últimos meses decorrente da retração na construção civil. O consumo das famílias, que corresponde a 70% da atividade econômica, continua forte, apesar da expectativa de um desaquecimento provocado pela menor demanda e queda nos preços de imóveis.

O elemento mais incerto é o mercado de trabalho. A queda no nível de emprego em agosto surpreendeu Wall Street porque um forte mercado de trabalho vinha ofuscando as preocupações ao longo do ano sobre preços do petróleo, aperto do crédito e declínio no setor imobiliário.

Alguns economistas acham que a queda no nível de emprego foi uma aberração, contradita por vários levantamentos do setor privado que mostram pouca mudança nos planos e atividade de contratação das empresas. Uma pequena queda no nível de emprego, se revertida nos próximos meses, pode acabar significando pouco.

Poucos analistas acreditam que o mercado imobiliário já atingiu o fundo do poço. A previsão é de que os preços das casas, as vendas e a atividade de construção caiam mais nos próximos meses.

Apenas um de cada oito economistas diz que a crise de crédito já passou. Cerca de 60% dizem que ela está mais ou menos na metade de seu curso, e o resto diz que ela está em seus estágios iniciais.

Na média, os economistas esperam que a taxa de desemprego dos EUA atinja 4,8% em dezembro - ante 4,6% agora - e 4,9% em junho do ano que vem.