Título: Investimentos lideram a expansão acelerada do PIB
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2007, Opinião, p. A12

Talvez o aspecto mais louvável do cenário francamente positivo da economia brasileira desenhado ontem pela divulgação dos resultados do Produto Interno Bruto (PIB) é a indicação de que o forte crescimento deste ano está sendo acompanhado por uma expansão também vigorosa e muito bem-vinda dos investimentos. É igualmente animadora a perspectiva de que, como o aumento da produção está sendo puxado por fatores internos, a expansão em 2007 está garantida mesmo que a atual crise financeira dos mercados mundiais venha a afetar a economia. Infelizmente, como ainda são muitas as dúvidas sobre a profundidade e a extensão da crise dos mercados, os prognósticos para o próximo ano continuam nebulosos - e devem continuar assim por algumas semanas mais, pelo menos.

Os números do PIB, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmam também que a economia cresce em um ritmo anual de 5% e que há uma tendência clara de aceleração. A evolução do segundo trimestre, de 5,4% com relação ao mesmo período do ano passado, e uma variação no segundo trimestre com relação ao primeiro (com ajuste sazonal) de 0,8% são indicadores de que o crescimento acumulado no primeiro semestre do ano, de 4,9%, poderá ser superado. Ou seja, talvez o ritmo de atividades do país esteja voltando aos níveis do ano de 2004, quando o país cresceu 5,7%.

Diferentemente de períodos anteriores, quando as exportações eram a locomotiva do crescimento, desta vez o destaque foi o aumento do consumo das famílias, que teve uma taxa positiva de 5,7%. Dentre os componentes da demanda interna, o maior destaque foi o crescimento de 13,8% da formação bruta de capital fixo, explicado, principalmente, pelo aumento da produção e da importação de máquinas e equipamentos, destinados, obviamente, a aumentar a capacidade de produção. E não poderia haver melhor caminho do que esse para garantir que o aumento na demanda constatado nos últimos dois anos seja atendido, sem pressões inflacionárias e outros contratempos que ameacem a continuidade do atual ciclo de crescimento econômico.

Nas últimas semanas, muitos especialistas voltaram a se preocupar com aumentos de preços, e não apenas de alimentos, que poderiam ser explicados por questões como o período de entressafra. O próprio presidente Luis Inácio Lula da Silva foi, várias vezes, chamado a comentar a possibilidade de um recrudescimento dos índices de preços, fez questão de reafirmar o compromisso do seu governo com o cumprimento das metas de inflação. O detalhamento da pesquisa do IBGE indica, nesse contexto, que o aumento na demanda está sendo acompanhado por uma massa de investimentos no setor produtivo que deverá resultar, a curto, médio ou longo prazos, em aumento da produção.

O mercado financeiro reagiu com otimismo à expansão do PIB. Não houve, como antecipavam alguns analistas, um crescimento explosivo da economia e, como complemento, registrou-se essa elevada taxa de formação bruta de capital fixo. O quadro indicaria, portanto, que o Banco Central não precisará interromper o ciclo de reduções das taxas básicas, a Selic. Espera-se agora pelo menos mais dois cortes de 0,25 ponto - nas duas próximas e últimas reuniões de 2007, em 17 de outubro e 5 de dezembro -, com o juro encerrando o ano em 10,75%.

A esse conjunto de boas notícias e análises favoráveis desvelado pelo IBGE, deve-se acrescentar ainda a avaliação de alguns economistas de que é possível notar uma expansão mais homogênea entre os diversos segmentos industriais. Até recentemente, alguns setores estavam sofrendo pesadas perdas com o processo de corrosão das suas exportações por causa da política cambial e a valorização do real. Em contraste, as indústrias mais voltadas para o mercado interno deslancharam suas vendas com maior facilidade. Esse panorama teria começado a se alterar no último trimestre, já que ramos como têxtil, calçados e de madeiras passaram a apresentar resultados um pouco melhores do que os registrados até então.