Título: Garotinho tenta filiar mais sete oposicionistas ao PMDB
Autor: Henrique Gomes Batista e Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2005, Política, p. A11

A ala do PMDB que faz oposição ao governo Lula deverá crescer nos próximos dias. Já está praticamente certo que sete deputados, dois deles do PP, Doutor Heleno e Alexandre Santos, ambos do Rio, um do PV, Deley e outros quatro do PSC, Zequinha Marinho, do Pará, Cabo Júlio e Carlos William, de Minas Gerais e Pastor Amarildo, do Tocantins, migrarão para a sigla a convite do ex-governador e atual secretário de governo do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho. A mudança deverá ocorrer na quarta-feira, 10 de fevereiro, quando a bancada do PMDB vai se reunir para definir sua participação na sucessão da presidência da Câmara, indicar o membro do partido para compor a mesa diretora da Casa e a escolher o novo líder da sigla. Os novatos devem embaralhar ainda mais as disputas internas no PMDB, que tem a segunda maior bancada da Câmara, com 77 deputados - a do PT tem 90. Garotinho promete que, com os novos pemedebistas, o atual equilíbrio de forças entre situacionistas e oposicionistas dentro do partido ficará comprometido. Hoje em dia, a maior parte da bancada na Câmara apóia o governo Lula, contrariando a posição definida na última convenção nacional do partido, em dezembro, que decidiu pela independência do PMDB em relação ao governo. "Esperem até a reunião do dia 10 e vocês terão uma surpresa na escolha do novo líder", afirmou Garotinho. Os deputados do PSC confirmam que migrarão para o PMDB, reduzindo a bancada a apenas dois representantes do Congresso. Em 2002, apenas um deputado foi eleito pelo partido, mas as constantes mudanças de siglas fizeram o partido aumentar de tamanho. "O ex-governador Garotinho é uma importante liderança dentro do PSC e ele nos fez um convite que devermos aceitar", afirmou o deputado Carlos William. William confirmou que a mudança poderá ocorrer antes da reunião de bancada do PMDB, marcada para o dia 10. "É provável que mudemos até o dia 10, estamos conversando e acredito que muita coisa pode acontecer até lá", disse. Ele confirmou que o grupo mudará unido. "O grupo vai inteiro fortalecer o PMDB. Quando Garotinho fez a opção de entrar no partido, o fez para valer e agora ele quer reforça-lo." Mesmo com os novos pemedebistas, a bancada do partido tende a ter maioria situacionista. A contabilidade feita no partido é que 54 dos atuais 77 deputados são do grupo ligado ao governo. A confiança do ex-governador em virar o jogo, no entanto, fez com que alguns deputados se preocupassem, seja com a troca de lado de alguns deputados, seja com o convite para que outros parlamentares entrem no PMDB. Na quarta-feira, ao anunciar apoio a Virgílio Guimarães (PT-MG) contra a candidatura oficial do PT, de Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), à presidência da Câmara, Garotinho afirmou que tem em sua cota 30 deputados. Governistas, contudo, acreditam que o ex-governador está inflacionando sua base. Quando retornou ao PMDB, apenas 12 deputados do PSB o seguiram. Na reunião de quarta-feira, dos 15 deputados presentes, apenas quatro eram ligados a Garotinho. A estratégia do ex-governador para convencer deputados pemedebistas a mudar de posição em relação ao governo e a tentativa de aumentar a bancada teria o apoio do presidente do partido, o deputado oposicionista Michel Temer (SP). Por outro lado, há quem suspeite da tentativa do presidente Lula de promover uma ação inversa, ou seja, aumentar o tamanho do PMDB governista. Lula já afirmou que gostaria de ver o o ministro Ciro Gomes, da Integração Nacional, no PMDB, e possivelmente a senadora Roseana Sarney, que, ganhando uma vaga no ministério, deixará o PFL. Líderes regionais, os dois têm influência sobre alguns deputados que poderão optar por mudar de partido. Em entrevista ontem, no Rio, o ex-governador desabafou que se o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, não tivesse articulado a candidatura de Greenhalgh, ele estaria fazendo exatamente o movimento contrário: costurando votos de apoio a Greenhalgh: "Nós, do Rio de Janeiro, sofremos com as maldades que foram implantadas pelo José Dirceu. Desde o primeiro dia, ele (Dirceu) tentou nos intrigar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Meu voto por convicção seria para Greenhalgh. Mas o padrinho dele é inimigo do Rio. E quem está com Dirceu está contra o Rio". O líder do PMDB, José Borba (PR), acredita que o aumento da ala oposicionista dentro da bancada não deverá mudar o equilíbrio das forças. "Quanto mais o partido crescer, melhor, mas eu já tenho o apoio de 54 deputados para a minha recondução à liderança", disse. A posição de líder é muito cobiçada, pois garante grande influência na bancada e boa visibilidade. Além de Borba, outros pemedebistas sonham com a liderança, como Eliseu Padilha (RS), Waldemir Moka (MS) e Saraiva Felipe (MG). "Há muitos nomes na disputa, temos que esperar até o dia 10 para definir ", disse Borba.