Título: Placar apertado forçará negociação
Autor: Raymundo Costa e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2007, Política, p. A9

Uéslei Marcelino/Folha Imagem Renan deixa o Senado e divulga nota: "Não guardo mágoa nem ressentimentos. O único sentimento que me move é o do entendimento e do diálogo" Absolvido, a prioridade do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) é restabelecer as pontes com a oposição, mas ontem mesmo PSDB e DEM prometeram radicalizar, inclusive na votação da CPMF. "A tensão continua", disse o líder do Democratas, José Agripino Maia. Renan nem sequer pensa em se licenciar, para distender as relações no Senado, como defendem setores do Palácio do Planalto. Ele julga que, se estivesse licenciado ontem, teria sido cassado no plenário. O mesmo vale para os processos que ainda estão em aberto no Conselho de Ético.

Embora tenha demonstrado fragilidade - é menor que os 35 votos a favor da cassação -, a oposição pode atrapalhar o Planalto nas votações de interesse do governo. Um levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) revela que a oposição votou com o governo em pelo menos 58 das votações ocorridas este ano, no Senado. No caso de emendas constitucionais como a CPMF, que requer o voto de 49 senadores, sua colaboração é ainda mais importante - a base de sustentação do governo tem apenas 41 integrantes.

O primeiro passo de Renan será procurar os líderes e presidentes da oposição, "para prosseguirmos na agenda legislativa que de fato interessa ao país, à população", disse em nota divulgada à noite. "Não guardo mágoa nem ressentimentos. O único sentimento que me move é o do entendimento e do diálogo". A oposição, no entanto, respondeu que vai intensificar a campanha por sua renúncia, acelerar os outros processos em tramitação no Conselho de Ética e continuar a obstrução da pauta de votações - tática, aliás, que não tem sido seguida à risca. Só no que se refere a medidas provisórias o Senado já votou 70, este ano. A crise de Renan começou em meados de maio .

A expectativa de Renan e do governo, no entanto, é que passado o primeiro impacto causado pela absolvição, seja possível reconstruir o ambiente político e voltar à normalidade das votações. "O momento é de ressaca, temos que esperar", disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Entre os aliados do Planalto no Senado, aposta-se que, com o tempo, cada um vai cuidar do próprio mandato e não ficar só cuidando de representações feitas pelo P-SOL.

A avaliação entre os aliados de Renan e do governo é que a oposição não será unitária. É preciso distinguir os interesses de PSDB e Democratas. Enquanto os tucanos têm seis governadores de Estado, o DEM conta com apenas um, José Roberto Arruda, do Distrito Federal. O raciocínio é que enquanto o DEM pode se dar ao luxo de radicalizar, a situação é diferente em relação ao PSDB. Tanto o governador de São Paulo como o de Minas Gerais já sinalizaram favoravelmente à prorrogação da CPMF. Sem o imposto do cheque, o governo terá que fazer corte e tirar dinheiro de algum lugar. Os Estados podem sair perdendo.

Embora absolvido, Renan saiu menor da votação - os 40 votos e as seis abstenções que lhe garantiram o mandato são menos que os 51 votos que obteve para se eleger presidente do Senado. Ainda assim ele e seus aliados falam que é possível o governo também radicalizar, se este vier a ser efetivamente o jogo da oposição. Por meio da construção de uma maioria por meio da filiação de senadores hoje na oposição a partidos aliados no governo. A votação de ontem mostrou que há senadores no DEM e no PSDB que não seguiram à recomendação das duas bancadas, que era pela condenação de Renan. A estimativa é que entre quatro e seis senadores poderiam trocar de legenda, ainda neste ano.

O apoio do governo e do PT foram decisivos para a absolvição de Renan. O Planalto conta com ele para a aprovação da CPMF. Nas contas dos aliados do presidente do Senado, apenas três petistas teriam votado contra ele - Augusto Botelho (RR), Flávio Arns (PR) e Eduardo Suplicy (SP). Além disso, Renan estima que perdeu quatro votos, entre a terça e quarta-feira, todos de senadores que votam com a base do governo.

No Planalto, a absolvição de Renan foi classificada como sendo "uma vitória do governo contra a oposição". Um senador governista dizia que, em caso de cassação, o clima ficaria pesado com a oposição cantando vitória e o PMDB cobrando a fatura do Planalto em votações importantes como a CPMF. Com a absolvição, ainda há entre os auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quem espere por um "gesto de grandeza" de Renan na forma de um pedido de licença, como reconhecimento pelo esforço do Planalto por sua absolvição.

Aliado de primeira hora do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador José Sarney (PMDB-AP) quebrou seu habitual silêncio e discrição e mandou um recado nesse sentido: "A votação foi de advertência ao presidente Renan Calheiros. Não puniu, mas advertiu".

No meio da tarde, Lula, que está em viagem aos países nórdicos, ligou para o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, para saber como estava a sessão secreta. "Presidente, o Congresso está em paz, a sessão será secreta e estamos ainda aguardando o desfecho", informou o ministro. Assim que a sessão foi encerrada , coube ao líder do governo no Senado, Romero Jucá, comunicar Lula da absolvição do aliado. Lula foi informado durante o cafezinho, depois do jantar com a rainha Margrethe II, sobre a absolvição de Renan. Preferiu não comentar e foi dormir

Entre os que defendem a licença de Renan acredita-se que o senador acabará cedendo, mais adiante, principalmente se a oposição conseguir manter acesa a radicalização. Pela reação inicial da oposição, esta é a tendência. O presidente do PSDB, Tasso Jereissati, por exemplo, assegura que oposição vai falar, a partir de agora, não só à votação da CPMF, mas a todas.