Título: Votação marcará "fim da tolerância"
Autor: Maria Lúcia Delgado e Jamil Nakad Junior
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2005, Política, p. A11

A era da cobrança e o fim da tolerância vão começar com a votação da medida provisória 232, segundo definiu o novo presidente nacional do PSDB, senador Edudardo Azeredo (MG). Essa MP corrigiu a tabela do Imposto de Renda em dezembro, mas também aumentou a carga tributária dos prestadores de serviço ao elevar de 32% para 40% a base de cálculo da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) para quem declara sobre o lucro presumido. A ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, deu ainda mais fôlego aos tucanos. Azeredo afirmou que o governo já não pode mais utilizar o argumento de que precisa fazer ajustes emergenciais, pois o PT está há dois anos no poder. "Já fomos muito compreensivos. Passamos dois anos colaborando com o governo, com as reformas tributária e da Previdência", disse Azeredo. Agora, segundo o presidente do PSDB, é preciso ficar claro que a política econômica conservadora do governo Lula não é uma continuidade do governo FHC. "Não é de jeito nenhum a continuidade do que fez o PSDB. É uma ducha de água fria no crescimento. Essa sinalização do Copom é muito ruim, pois já temos o maior juro real do mundo. É uma política extremamente conservadora, e o impacto imediato disso é o aumento da dívida pública", disse. Azeredo aproveitou ainda para alertar o PT. Disse que é altíssima a rejeição da bancada da Câmara ao nome de Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) para a presidência da Casa. "Oitenta por cento dos deputados do PSDB hoje resistem ao nome oficial", avisou. De acordo com o senador, a direção partidária mantém a questão doutrinária, favorável ao princípio da proporcionalidade (dar a presidência ao maior partido), só que isso é apenas orientação. "Como o maior partido (PT) tem problemas internos, caberá aos deputados decidir em quem votar. Nessa disputa do PT, votos podem ir para o Aleluia (José Carlos Aleluia, do PFL) ou para o Virgílio (Virgílio Guimarães, do PT)", avaliou. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também defendeu ontem que o partido que detém a maioria na Câmara dos Deputados fique com a Presidência da Casa. A proporcionalidade, para Alckmin, deve ser a regra que deve prevalecer na eleição da mesa da Casa. "Sempre defendi, por questão de princípio, a proporcionalidade. Eleição de mesa não deve ser palco de disputa política. Disputa política se faz no plenário", disse o governador depois da abertura do 8º Seminário Cepam de Novos Prefeitos e Vereadores, em São Paulo. Quanto à disputa entre Greenhalgh e Virgílio, o governador resolveu não se meter: "É um problema interno do PT". A eleição na Câmara dos Deputados pode respingar na votação da direção da mesa na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, em 15 de março, um mês depois da votação em Brasília. A retirada do apoio do PSDB paulista à candidatura do PT nacional poderia dificultar a vida do governador na eleição de um tucano para a presidência da Assembléia. Os candidatos tucanos que, por enquanto, disputam a Presidência da Assembléia são Edson Aparecido, Vaz de Lima e Celino Cardoso. A eleição do vereador Roberto Tripoli (sem partido) para a presidência da Câmara de Vereadores de São Paulo é o exemplo que tucanos e petistas não querem que ocorra tanto no plano estadual quanto no federal. Tripoli, reeleito vereador pelo PSDB, acabou se unindo ao PT e aos partidos do Centrão (PL, PTB, PMDB) contra a candidatura oficial de seu ex-partido, o PSDB. A medida foi considerada uma traição pelos tucanos que pediram sua expulsão do partido. Tripoli resolveu pedir o seu desligamento da sigla. Para o deputado Edson Aparecido, a bancada tucana começa a se reunir a partir da próxima semana para definir um nome consensual no partido. A contaminação do processo eleitoral em Brasília não preocupa Aparecido: "A Assembléia não tem uma relação com a Câmara Federal, nem com a Câmara Municipal". Mas o deputado, receoso com o caso Tripoli, lembra que as decisões da bancada devem ser sempre cumpridas. No seminário do Cepam, Alckmin deixou de lado o discurso "telegráfico", como o governador costuma fazer. Para um platéia de prefeitos e vereadores, Alckmin cobrou austeridade fiscal. "Para se construir o presente, não se pode comprometer o futuro. A LRF é coisa séria", cobrou. Alckmin sugeriu que os prefeitos deveriam cortar gastos todos os dias. "Os gastos com pessoal e custeio ficaram muito altos. Essa é a hora do ajuste. Ajuste se faz todo dia. Segurar gastos só um faz".