Título: Capela, Maurício
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2007, Empresas, p. B1

O preço do barril de petróleo no mercado internacional continua batendo recordes. Ontem, na Bolsa Mercantil de Nova York, o contrato para outubro da commodity ultrapassou os US$ 80 durante o pregão, mas fechou o dia a US$ 79,91, alta de US$ 1,68. Já na Bolsa Internacional do Petróleo de Londres, o produto também para outubro manteve o ritmo de valorização e registrou acréscimo de US$ 1,30, encerrando a sessão a US$ 77,68.

Apesar da significativa alta, em termos reais e ajustado pela inflação, o petróleo ainda está longe dos preços praticados em 1979, quando o Irã suspendeu a produção da commodity e o produto aumentou significativamente no mundo. A valores presentes, o barril do petróleo de 1979 estaria sendo negociada a US$ 109 atualmente.

No entanto, o mesmo não se pode dizer quando o assunto é custo de extração. Isso, porque o indicador tem aumentado ano após ano, o que levou o Departamento de Energia dos EUA a calcular a escalada de valores. E segundo a instituição, a média de custo da commodity usada pelas refinarias americanas era de US$ 37,48 por barril em 1981. Trazida, portanto, a valores de hoje, informa o departamento, esse custo se aproximaria dos US$ 84,73, o que abre espaço para uma nova escalada de preços.

Mas a alta de ontem decorreu mesmo da gigantesca queda dos estoques americanos do insumo. Segundo o Departamento de Energia dos EUA, as reservas da commodity encolheram em 7,01 milhões de barris, fechando a semana em 322,6 milhões de barris. Foi a queda mais significativa registrada em 2007, já que os analistas esperavam uma redução perto de 2,7 milhões de barris.

"Além disso, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) teve uma postura tímida ao aumentar em apenas 500 mil barris a sua capacidade de produção", afirma o economista Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE). A entidade, que responde por 40% da produção global da commodity, produz atualmente ao redor de 27 milhões de barris por dia.

Mas mesmo diante de custos em ascensão, há também outros movimentos sendo observados por quem comercializa a commodity diariamente. Com a crise de hipotecas que se instalou nos EUA, alguns fundos de investimento resolveram alocar recursos em posições de longo prazo no mercado de petróleo. "Há uma quantidade significativa de dinheiro dos fundos em direção à commodity", diz James Ritterbusch, presidente da Ritterbusch & Associates.

Só que não é apenas isso que impulsiona esse mercado. O petróleo também tem sido obrigado a conviver com um cenário nada favorável ultimamente. Além do consumo de gasolina ter sido muito maior, nos últimos meses conflitos em países produtores foram freqüentes, como a questão envolvendo soldados britânicos no Irã e mesmo os ataques aos dutos de escoamento de petróleo na Nigéria.

É justamente por conta desse cenário que Lucas Brendler, analista de investimentos da Geração Futuro Corretora, aposta que a commodity não sofrerá retração no seu preço até o fim de 2007, devendo ter como valor final algo superior aos US$ 70. "Agora, começa também a demanda por óleo combustível, usado no processo de aquecimento, para o inverno no Hemisfério Norte. E isso trará impactos", diz Brendler.

Guilherme Pinheiro, sócio-diretor da Accenture e responsável pela área de energia da consultoria para América Latina, lembra ainda que o preço alto do petróleo tem viabilizado a extração da commodity em lugares antes considerados custosos. Um bom exemplo é a tundra no Canadá. "Mas outros negócios também conseguiram se fortalecer no mundo, como a exploração de gás natural liquefeito", conta o executivo.