Título: País crescerá 4,5% no ano, diz Unctad
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2007, Brasil, p. A4

O Brasil pode crescer 4,5% este ano acompanhando o quinto ano de expansão consecutiva da economia global. Mas pode ser o emergente mais afetado, se houver nova crise global causada por capitais especulativos nos mercados financeiros. A avaliação é da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), que qualifica os resultados da política monetária no Brasil de "decepcionantes", enquanto elogia a China pelo juro baixo e câmbio desvalorizado.

A entidade mantém sua previsão mais pessimista de expansão econômica global em 3,4%, comparado a quase 5% estimado pelo FMI, argumentando com a desaceleração nos EUA. Pelo momento, a economia global continua "num período de ouro", afirma o secretário-geral da Unctad, Supachai Panitchpakdi. Os preços das commodities se mantêm altos, graças à sólida demanda dos emergentes, liderados por China e Índia.

Supachai, contudo, alerta que mais turbulências podem acontecer a partir do problema dos créditos imobiliários nos EUA. Mudanças súbitas de taxas de câmbio podem trazer pânico e desestabilizar os mercados, criando um efeito-dominó, que conduziria a crise mais severa e duradoura que a dos subprime, advertiu Heiner Flassbeck, economista-chefe da entidade. Isso afetaria toda a economia mundial. Entre os ricos, o Japão seria particularmente vulnerável. Entre os emergentes, o Brasil.

"Uma crise maior no cenário internacional pode ser esperada, levando as moedas a situações insustentáveis. Esse é hoje o maior risco à economia mundial", afirmou. "Para os países emergentes, a crise seria menor para os que não dependem de entrada de capitais. O padrão seria uma desaceleração da economia, não uma fuga das economias. Salvo no caso do Brasil, que estará vulnerável."

A Unctad diz que a amplitude dos fluxos de capitais especulativos falseia as taxas de câmbio. Bancos e hedge fundos têm se aproveitado da diferença de taxas de juros, tomando empréstimos em iene e franco suíço para investir onde há juros altos, como no Brasil e Nova Zelândia. Para a entidade, políticas nacionais contra a inflação através de juros altos incentivam esse tipo de especulação.

O economista-chefe da Unctad considera que o Brasil "sem dúvida" será mais afetado que a China. Para ele, o Brasil atrai especuladores com juros reais de mais de 10% e acumula reservas que serão aplicadas em títulos rendendo só 5%. A China mantém câmbio controlado e taxas de juros de 3% e investe reservas nos mesmos títulos de 5%. Flassbeck minimizou argumentos de autoridades brasileiras de que o custo de manter alto volume de reservas é espécie de segurança contra crises externas. "O que o contribuinte brasileiro está fazendo é subvencionar o especulador."

No Relatório sobre Comércio e Desenvolvimento 2007, a Unctad pega os exemplos do Brasil, Turquia e China para mostrar como regimes alternativos de câmbio e diferentes políticas monetárias geram diferentes graus de oportunidades de especulação para o mercado internacional de capitais. E como a apreciação da moeda, com perda de competitividade, pode resultar de especulação com juros.

Nota que no Brasil, México, África do Sul, Hungria e Turquia, com política monetária com meta de inflação que supõe moeda flutuando livremente e inflação contraída pelo jogo dos juros, os resultados são "decepcionantes". Em contraste, diz que a China se singularizou por intervenções rigorosas no mercado para controlar câmbio e juros, mantendo estabilidade "muito firme" e capitais baratos que favorecem a formação de capital para investimentos produtivos.

Para a Unctad, "infelizmente" regime com câmbio flutuante e meta de inflação melhoraram a situação econômica somente nos países que foram capazes de reduzir consistentemente a diferença de suas taxas de juros contra a dos EUA Para suscitar o debate, a Unctad propõe um regime global de taxa de câmbio, que deveria ser "enquadrado" como são hoje as tarifas aduaneiras e as subvenções à exportação.