Título: Assessor de Lula critica elite e sugere revisão da dívida
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2005, Política, p. A12

Auxiliar mais próximo do presidente Lula, o chefe de gabinete da presidência, Gilberto Carvalho, fez ontem duras críticas à elite brasileira e sugeriu que a dívida externa deveria ser renegociada. Ele deixou claro que, na visão de Lula, os bancos estatais devem oferecer crédito à população de baixa renda revertendo, segundo ele, uma lógica histórica de beneficiar "os grandes" e "a elite que sempre se apropriou dos mecanismos de financiamento à produção". Carvalho atacou o neoliberalismo e o protecionismo comercial dos Estados Unidos, exatamente no momento em que Lula participava do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Segundo ele, a mudança interna na economia depende de uma articulação do Brasil com demais países da América Latina, além de China, Índia e África. "As mudanças econômicas que queremos fazer aqui não conseguiremos sem essa articulação internacional", alegou. Carvalho disse que Lula deu aos presidentes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal a ordem de dar prioridade ao microcrédito e fez duras cobranças a ambos recentemente. Carvalho foi um dos expositores ontem do Seminário de Encubação de Empreendedores Afro-Brasileiros, realizado com apoio do Ministério da Igualdade Racial. Dizendo ter autorização de Lula, ele fez uma palestra para uma platéia de jovens sobre Desenvolvimento Político e Econômico no Brasil. "Vocês sabem que os bancos estatais não queriam emprestar dinheiro para os pobres, porque diziam que ia ter inadimplência. Lula chamou esses dias os presidentes do BB e da Caixa e mostrou a eles os dados do Pronaf, do financiamento a pequenos agricultores, que é o que tem menor índice de inadimplência. Pobre honra suas dívidas, ao contrário de muitos da elite brasileira que fizeram sua fortuna em cima da inadimplência, em relação aos empréstimos estatais com seus desvios, processos e postergamentos que levaram muitas vezes às dívidas a jamais serem pagas", afirmou o assessor. Segundo Carvalho, o objetivo do governo é a unificação da América Latina e a interligação desse mercado com a China, a Índia e a África. Somente a integração do Brasil com o mundo em desenvolvimento, na visão do assessor, permitiria uma revisão do conceito da dívida externa. "Para que nós, unificados, e tendo os nossos interesses postos em comum, possamos comparecer às grandes mesas internacionais de negociação comercial, industrial, agrícola, política e econômica, e dizer claramente: agora não será mais assim. Nós queremos é discutir o que é conceito da dívida, queremos rediscutir os pagamentos dessa dívida, nós queremos discutir as taxas que impõem aos nossos produtos quando exportamos , o que nos obriga muitas vezes a abrir as nossas fronteiras para não colocar nenhuma taxa nos produtos que eles trazem para cá", afirmou. . (MLD)