Título: BRVias e Acciona vão disputar concessões
Autor: Ribeiro, Ivo
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2007, Empresas, p. B9

Sergio Zacchi / Valor Ruben Rios (à esquerda) e Tavares: união de forças do Brasil e Espanha para enfrentar pesos-pesados na licitação mais aguardada de concessões rodoviárias Foi dada a largada para uma das licitações de concessão de rodovias mais aguardada no país. Os candidatos começam a se posicionar para a disputa marcada pelo governo federal para 9 de outubro. A estreante BRVias, formada por três grupos nacionais há menos de um ano, acaba de unir-se ao grupo Acciona, peso-pesado espanhol que tem operações em construção e projetos de infra-estrutura em 30 países e fatura ? 7 bilhões ao ano.

As duas empresas acabam de formatar o Consórcio BRVias Acciona, com partes iguais de 50%, de olho nos sete lotes de rodovias federais e em licitações que serão lançadas pelo governo do Estado de São Paulo. Um exemplo é a gestão e operação do trecho Oeste, já pronto, do rodoanel que circundará a cidade de São Paulo. O edital está previsto para dia 17 deste mês e a licitação, dois meses depois.

O consórcio chega com apetite para não sair de mãos abanando da disputa, afirmam os executivos que estão à frente de cada uma das empresas - o ex-ministro do Planejamento Martus Tavares, no governo de Fernando Henrique, e Ricardo Ruben Rios, diretor da Acciona no Brasil, um argentino com segunda passagem por aqui. "Nossa união, que reúne experiências e histórias de êxito que se complementam de quatro grupos - três brasileiros e um espanhol - não é para fazer figuração", afirma Tavares, que desde dezembro de 2006 preside a BRVias. "Nossa estratégia é de sempre atuar em parceria com sócios locais; juntos somos bem mais fortes", completa Ruben Rios.

O consórcio tem por objetivo analisar todas as oportunidades de concessões, federais e estaduais, tanto as chamadas puras como as PPPs (parcerias público-privadas). Não se esgota aí. Está aberta uma janela para projetos em outras áreas: de terminais portuários e aeroportuários a energia, saneamento ambiental, gestão de estacionamentos e gás.

Tanto Tavares quanto Ruben Rios sabem que a disputa pelos sete lotes federais não será fácil. Pelo contrário, consideram que será bem acirrada. "É esperado um número recorde de candidatos", informa o ex-ministro. Além dos tradicionais grupos de peso brasileiros, como Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, o negócio, que irá exigir R$ 9 bilhões de investimentos, atrairá também grupos fortes estrangeiros. Entre eles a OHL, da Espanha [que já tem operações no Brasil], Brisas, de Portugal [acionista da concessionária CCR], Impregilo, da Itália, dentre outros, além de fundos de pensão locais e de private equity. "Estamos preparados para enfrentá-los", afirma.

Tavares explica que a licitação dos sete lotes é emblemática - o que a torna atrativa também para quem já está no negócio -, pelo fato de compor uma malha de rodovias privadas nas regiões Sudeste e Sul - do Rio Grande do Sul até Minas Gerais e divisa Rio com Espírito Santo. Com isso, futuramente, os concessionários poderão racionalizar suas operações, seja com troca de ativos seja com aquisições.

Os lotes de vias federais somam 2,6 mil quilômetros e o modelo de licitação será o de leilão reverso. Vence quem oferecer a menor tarifa, a partir de um valor teto. Abrangem rodovias como a Fernão Dias (Belo Horizonte a São Paulo), Régis Bittencourt (São Paulo/Curitiba) e BR-101 (Niterói a divisa de Rio/Espírito Santo). Cerca de 50% dos R$ 9,1 bilhões devem ser feitos em cinco anos.

A Acciona, dizem Ruben Rios e Tavares, traz à parceria a experiência de operação de 21 concessões de rodovias, ferrovias e portos em vários dos países, com destaque para Espanha. Atualmente, segundo seu executivo, o grupo se posiciona como o 10º maior concessionário mundial em volume de negócios. Entre as dez maiores do mundo, seis são espanholas.

Tavares, que trabalhou de 1986 a 2002 em Brasília nos ministérios da Fazenda e Planejamento e depois três anos no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), afirma que ao criarem a BRVias, no ano passado, os sócios viram oportunidades de negócios com as PPPs federais e estaduais [embora poucos projetos tenham saído do papel], além de concessões puras em várias áreas. "Falta de recursos não é privilégio de governantes só do Brasil, cujo principal déficit hoje está na área de infra-estrutura", afirma.

Em São Paulo, além da licitação do rodoanel, segundo o ex-ministro, que passou pela secretaria de Planejamento de Geraldo Alckmin, haverá concessões de várias rodovias (Raposo Tavares, Marechal Rondon, Ayrton Senna, Carvalho Pinto, Tamoios e D. Pedro). "O total de investimentos é estimado em R$ 7 bilhões", informa.

A BRVias é uma associação em partes iguais entre a Áurea, holding da família Constantino, a Splice, do empresário Antônio Beldi, e a construtora WTorre. A família Constantino é dona da companhia aérea Gol e a Áurea, uma de suas holdings, tem atuação no transporte rodoviário de passageiros com várias empresas, entre elas Breda, Expresso União, Princesa do Norte e Piracicabana. A WTorre é especializada em galpões para indústria ("built to suit") e agora está entrando em incorporação residencial e corporativa. A Splice, que atua no segmento industrial de telecomunicações e serviços, foi dona da empresa de telefonia TCO.

Sediada em Madri, a Acciona é resultado da fusão, em 1997, de duas centenárias construtoras espanholas, a Cubiertas e a Entrecanales y Távora. Atuas em seis ramos de negócios na área de infra-estrutura e serviços - construção e concessões, imobiliária, energia (renováveis, como eólica), água (gestão e tratamento), serviços urbanos e de meio ambiente (estacionamentos e aterro sanitário) e logística (terrestre, aeroportuária, ferrovia e marítima).

No Brasil, a Acciona já foi dona de 25% da concessão rodoviária Econorte, no Paraná, vendida recentemente. Chegou em 1996, ainda via Cubiertas, e fez várias obras de construção, como a fábrica de caminhões e ônibus da VW e a restauração do prédio da Sala São Paulo. "O Brasil está entre os cinco países estratégicos do grupo nas Américas, com segurança jurídica e potencial de crescimento", afirma Ruben Rios.