Título: Meirelles diz que Brasil vai bem e não precisa renovar acordo com FMI
Autor: Assis Moreira De Davos
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2005, Internacional/Especial, p. A

A economia brasileira "está muito bem" e o país não precisa renovar o acordo com o FMI que termina em fevereiro. Essa foi a mensagem do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao chegar ontem a Davos para se reunir com banqueiros e executivos. Enquanto vários analistas admitem riscos de redução do fluxo de capitais para os emergentes a partir do segundo semestre, Meirelles foi incisivo ao dizer que o Brasil "pode caminhar com suas próprias pernas, sem o FMI". Mas que a decisão de renovar ou não o acordo com o fundo só sai em março. Para o presidente do BC, se houver um aumento da aversão ao risco nos mercados internacionais, como houve no primeiro semestre de 2004 e que reduziu o fluxo de capitais para os emergentes, o Brasil então passará de "muito bem" para "bem". E que na discussão com o FMI não vai "necessariamente" pesar a conjuntura internacional. "Há outros fatores como as vantagens de renovar ou não, numa análise bastante abrangente e complexa que não terminou", disse. O dilema do governo em relação ao acordo com o fundo, que entra em sua décima revisão, é que de um lado, não renovando, o país procura mostrar que está suficientemente sólido. Mas, sem o acordo, pode haver algum tipo de movimento entre investidores ao ver o país sem o crédito que fica à disposição para casos de turbulência. A mensagem otimista de Meirelles precedeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje e amanhã estará em Davos para reuniões com líderes políticos principalmente. Lula cortou da agenda audiências privadas com executivos, apesar das gestões dos setores econômicos para que ele recebesse ao menos setores de interesse da política industrial brasileira. "A viagem desta vez é política", disse um alto funcionário brasileiro em Davos. Hoje, Lula discursará para mais de dois mil participantes. Segundo Meirelles, ele vai mostrar "a trajetória de estabilidade da economia brasileira". Para Meirelles, a grande mudança em relação à primeira visita de Lula, há dois anos, é que agora o Brasil "é um dos emergentes que mostrou que tem capacidade de estabilizar a economia e crescer". Lula falará sobretudo da luta contra a pobreza. Uma declaração atribuída a Lula em Porto Alegre, de que mudou a agenda de Davos, foi recebida com certo mal-estar, inclusive pelo presidente do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab. Este contou que, desde os anos 70, já trazia Ralph Nader, um nome esquerdista nos EUA, e a dura esquerda alemã para discutir temas sociais. E que há cinco anos o Fórum reforçou a visão de solidariedade e necessidade de assegurar o desenvolvimento. "Ha dois anos Lula veio e reforçou essa mensagem", disse. Mas Schwab reconhece em Lula e no presidente da África do Sul líderes importantes de países em desenvolvimento, com capacidade de contrabalançar a enorme dominação na cena internacional dos países industrializados. O premiê britânico, Tony Blair, confirmou que convidou Lula para a cúpula do G-8 em julho, na Escócia. Um ministro da Tanzânia disse que os países em desenvolvimento não querem ir ao G-8 para "um almoço ou jantar, mas para participação plena". A chamada Iniciativa de Hensinki, patrocinada pela Finlândia e pela própria Tanzânia, quer que o G-8 se torne uma espécie de G-20, para refletir um mundo mais equilibrado. Amanhã, o governo brasileiro reunirá cerca de cem executivos para detalhar os passos da economia brasileira e conclamá-los a aumentar investimentos no país. Carla Fiorini, da HP, será a porta-voz dos empresários e já indicou que sua empresa vai ampliar investimentos no Brasil, informou o ministro Luiz Fernando Furlan.