Título: Sistema consome 6% do PIB
Autor: Saccomandi, Humberto
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2007, Especial, p. A12

Jukka Pietinen, diretor da escola municipal de ensino fundamental Haaga, em Helsinque, interrompe a aula de música da 3ª série. Todos os 25 alunos se levantam para saudá-lo. Na sala, há dez violões, três guitarras elétricas, uma bateria e muitos outros instrumentos. Os alunos recebem os jornalistas brasileiros com uma canção tradicional. Sabem ler a notação musical nos livros que receberam de graça do Estado. Uma garotinha loira marca o ritmo na bateria. O professor, bastante jovem, conduz. Ao final, agradecemos e aplaudimos. Mais que a música, foi uma apresentação ao vivo do melhor sistema educacional do mundo.

A Finlândia teve o melhor desempenho no último Pisa (de 2003), o programa internacional de avaliação de estudantes, que compara o desempenho de alunos de 40 países. O Brasil ficou em antepenúltimo lugar.

O segredo da Finlândia não é bem um segredo, mas uma receita conhecida muito bem executada.

Quase todo o sistema educacional é público, municipal. As poucas escolas privadas são financiadas pelo Estado e não cobram mensalidade. O ensino fundamental, de nove anos, é obrigatório. O Estado fornece de graça todo o material escolar. As crianças almoçam grátis na escola (dois menus, um com carne ou peixe e outro vegetariano. Tomam água ou leite). Se a escola for longe, o Estado paga o transporte. Enfermeiras acompanham a saúde dos alunos.

O país investe pesadamente em educação. Gasta anualmente cerca de 6% do PIB, incluindo pesquisa e outros itens, diz Jari Koivisto, conselheiro no Conselho Nacional de Educação da Finlândia. "É o maior gasto do Estado, mais do que com a Previdência."

A escola Haaga, com 646 alunos, tem um orçamento anual de 3,5 milhões de euros. Isso dá mais de 5,3 mil euros por aluno (quase R$ 14,5 mil), o que permite pagar muito bem os professores. O salário-base é de 1,8 mil euros (R$ 4,9 mil), mas pode chegar até a 4,5 mil euros . São salários muito bons mesmo em relação à iniciativa privada.

Assim, fica fácil atrair talentos. Mas não é fácil ser professor na Finlândia. Todos têm de ter pós-graduação, o que implica em ao menos cinco anos de formação superior. "Há ênfase no treinamento dos professores. Podemos confiar neles", diz Koivisto. E, por confiar neles, o país dá autonomia a escolas e professores para executar o currículo e inovar.

A gestão da escola mira a eficiência extrema, para reduzir custos administrativos. A Haaga tem pouquíssimos funcionários: o diretor, dois vices (que são também professores), uma e meia enfermeira (uma em tempo integral e outra em tempo parcial), uma e meia secretária, uma assistente social, um psicólogo, um técnico de computação e dois faz-tudo. Só isso. Alimentação e limpeza são terceirizados (a escola é que escolhe a empresa). O prédio pertence a uma empresa municipal, que se responsabiliza pela manutenção, e é alugado pela escola.

A educação não visa só o aprendizado formal. Na Haaga, dois alunos ajudam na cantina da escola todo dia. Para isso, perdem uma aula. "O professor depois se encarrega de passar a matéria a eles", diz o diretor Pietinen. Há aulas de assuntos práticas como culinária, costura, marcenaria. Além do finlandês, ensina-se inglês, alemão, sueco, espanhol, francês e latim (a maioria dessas línguas é opcional). Quase toda escola oferece aulas extras de alguma especialidade.

O esforço da Finlândia não é à toa. O país tem um alto padrão de vida e é muito caro. Empregos de baixa qualificação tendem a migrar para países mais baratos. E precisam ser substituídos por empregos que exigem alta qualificação. "A educação é considerada a chave do sucesso pelas famílias", diz o conselheiro Koivisto.