Título: Para Inmetro, produtos da China não são confiáveis
Autor: Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2007, Empresas, p. B4

A enxurrada de produtos chineses no mercado brasileiro fortalece o rigor das regras de certificação adotadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Depois que os recalls sucessivos dos brinquedos da Mattel expuseram os riscos associados aos importados da China, o Inmetro passou a exigir a verificação de cada lote de produtos comprados de qualquer lugar do mundo que entram no país, disse ontem ao Valor o diretor da Qualidade do instituto, Alfredo Lobo.

"A grande lição disso tudo é que a China mostrou para o mundo que as práticas de certificação que vinham sendo usadas no mundo inteiro não são mais confiáveis. A China desequilibrou a avaliação de conformidade no mundo inteiro", disse Lobo. Antes, o Inmetro tinha a opção de certificar produtos através de uma avaliação da qualificação de pessoal, das práticas de controle de qualidade e de produção das empresas. Caso a análise fosse positiva, era feito um teste inicial do produto e depois dois outros testes eram realizados a cada ano.

No caso dos acessórios da boneca Barbie colocados no mais novo recall da Mattel, Lobo afirma que as unidades com problemas de tinta tóxica não estavam nos lotes que o Inmetro certificou. Por conta desses problemas, o instituto publicou na semana passada resoluções que exigem a certificação de todos os lotes dos brinquedos e capacetes para motociclistas importados. A regra já havia sido adotada no final dos anos 90 para preservativos importados e deve se estender para luvas cirúrgicas fabricadas no exterior. "Não dá para confiar nos produtos da Ásia, particularmente da China. As multinacionais, como a Mattel, levaram as fábricas para lá, se beneficiando de uma mão-de-obra aviltada, de um câmbio favorável segurado artificialmente", diz Lobo.

O diretor do Inmetro reconhece que a medida corre risco de sofrer sanções no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), pois levará a um aumento de 1% a 2% no custo de certificação pela empresa, além de representar uma maior demora para colocar os produto no mercado brasileiro. "A OMC pode alegar que estamos criando uma dificuldade ao comércio internacional e protegendo a indústria nacional. Mas a nossa prerrogativa é de que para o bem da segurança vale tudo."

Apesar da necessidade de maior rigor, Lobo diz que os procedimentos de certificação no Brasil são mais rigorosos do que nos Estados Unidos e na Europa. O Inmetro certifica atualmente produtos de 88 famílias cujo uso pode representar algum risco à saúde, à segurança ou ao meio ambiente - desde mangueiras de gás a pneus, passando por equipamentos utilizados em hospitais e tintas utilizadas no setor têxtil. O instituto já programa a certificação de mais 113 grupos de produtos com os mesmos riscos. "A demanda, especialmente por conta dos importados, está aumentando", disse Lobo.

O número de funcionários do instituto, ligado ao Ministério do Desenvolvimento, corresponde a 900 e deve passar para 1.550 até o final de 2009. Neste ano, serão admitidos 126 funcionários. O orçamento previsto para este ano é de R$ 370 milhões, R$ 100 milhões acima do ano passado. Do total do orçamento, 70% têm origem nas certificações e aferições e 30% são recursos do governo federal.