Título: Oposição tenta manter pressão sobre Renan e negociar pauta
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2007, Política, p. A6

Antônio Cruz/ABr Oposição reunida no gabinete de Tasso: senadores precisam dar satisfação à opinião pública, mas falta unidade entre PSDB e DEM para obstrução da pauta Discute-se na oposição, especialmente no PSDB, uma saída para a crise do Senado e a aprovação da CPMF. Em troca da prorrogação do imposto do cheque, o governo concordaria com o afastamento de Renan Calheiros da presidência do Senado. A oposição também apoiaria a eleição, para o cargo, de um senador mais identificado com o Palácio do Planalto, desde que não excessivamente carimbado como governista, como a senadora Ideli Salvati (PT-SC), por exemplo.

Para pressionar Renan a sair, ontem os dois principais partidos da oposição, PSDB e Democratas, além de outras siglas menores, aprovaram uma pauta de ação conjunta que, se for posta em prática, praticamente deixará paralisado o Senado. Mas há duvidas tanto no PSDB como entre os Democratas sobre a unidade e a capacidade dos partidos de sustentar esse tipo de atuação por um longo período. Os seis governadores tucanos, por exemplo, querem que a bancada negocie a votação da CPMF, pois temem ficar sem recursos acertados com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se o imposto do cheque não for prorrogado.

A pauta acertada prevê uma "seletiva" de projetos, ou seja, somente aqueles que forem considerados de interesse nacional. A reunião realizada no gabinete do presidente do PSDB, Tasso Jereissati, da qual participaram também outras quatro pequenas agremiações, decidiu também apoiar os projetos que prevêem o fim da sessão secreta e do voto secreto - matéria constitucional que requer a aprovação de no mínimo 49 senadores. O item mais radical é a promessa dos líderes não mais participar de reuniões com Renan - é nessas reuniões que são acertadas a pauta e a instalação de CPIs, por exemplo.

Os partidos também decidiram apoiar um projeto que determine o afastamento imediato do integrante da Mesa que responder a processo no Conselho de Ética, e tentar acelerar a tramitação das outras representações feitas contra Renan Calheiros no Conselho de Ética do Senado. "A Casa está de joelhos, desmoralizada. Nossa reação enérgica é para reconstruir o Senado", disse o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM). "Não participaremos mais de reunião de líderes sob a presidência do senador Renan Calheiros por entendermos que ele não tem condições de continuar presidente do Senado enquanto responde a processos no Conselho de Ética", resumiu o líder do DEM, José Agripino Maia.

A reação da oposição é avaliada nos próprios partidos como uma satisfação à opinião pública, mas um movimento que não pode ser sustentado por muito tempo porque não há unidade entre PSDB e DEM. Mais entre os tucanos que entre os Democratas há quem avalie que a decisão do Senado deve ser acatada. Assim, a oposição poderia manter o discurso exaltado, fazer pequenos boicotes a Renan para acentuar o desgaste de Renan, mas votar o que realmente for necessário. Mas há consenso, até entre os governadores tucanos, que Renan Calheiros perdeu condições políticas para negociar a aprovação de projetos como a CPMF.

Os seis governadores do PSDB querem que o partido negocie a votação da CPMF. Eles acreditam que podem ficar com uma parte dos R$ 39 bilhões da arrecadação prevista para 2008, mesmo que não seja pelo partilhamento. Se for rejeitada, avaliam que o governo federal terá de fazer cortes que podem interromper o envio de recursos para obras como o Rodoanel, de São Paulo. Nos dois maiores Estados governados pelos tucanos, São Paulo e Minas Gerais, José Serra e Aécio Neves, embora sempre peçam mais dinheiro, estão satisfeitos com o que acertaram com Lula, nesse sentido.

Na negociação com o governo é que poderia avançar um acordo para a saída de Renan, mesmo que isso implique o arquivamento das outras representações que tramitam contra o senador no Conselho de Ética. Renan resiste em se afastar porque está convencido de que terá o mandato cassado, se não estiver no comando do Senado. O governo tem maioria no Senado, mas não para aprovar matérias que exijam quórum qualificado, caso de emendas constitucionais como á CPMF.