Título: Biodiversidade rica da região é campo fértil para conflitos
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2005, Opinião, p. A18

O novo empreendimento da Perdigão será erguido sobre um dos maiores berços de águas da América do Sul. A área, de rica biodiversidade, abriga o nascedouro de importantes rios amazônicos, pantaneiros e platinos. Estima-se que existam mais de duas mil nascentes d'água na região. Aqui, florescem os rios Araguaia, Sucuriú (afluente do rio Coxim no Pantanal) e Verde, que deságua no Paranaíba. O Aqüífero Guarani, maior reserva subterrânea de água doce do planeta, tem aflorações na região. Mineiros tem, ainda, os 132 mil hectares do Parque Nacional das Emas, e a intenção do governo goiano é transformar em parque estadual cerca de 340 mil hectares ao redor da Serra do Caiapó. Com tanta biodiversidade e produção agropecuária num só lugar, é inevitável a divergência entre ambientalistas e produtores. "Temos uma boa convivência com eles", minimiza Júlio Carrijo, presidente do sindicato rural da cidade. A Perdigão se antecipa ao debate. "Não vamos chegar nem perto do Parque das Emas. Ao contrário, vamos para o outro lado", diz Nelson Vas Hacklauer, diretor de Desenvolvimento de Negócios da empresa. "Senão, não tem financiamento e pode, inclusive, prejudicar a imagem de nossos produtos no exterior". Mineiros é a maior produtora de sorgo do Estado, terceira de soja e trigo, quarta de leite e quinta de algodão. Um inventário feito pelo Sebrae-GO sobre o potencial turístico da região alerta para os riscos de degradação ecológica com o avanço da agropecuária. A ONG Fundação Emas, que atua em conjunto com a Conservation International, diz que tem crescido o avanço das lavouras sobre áreas de preservação. "Lançamos a idéia dos condomínios de reserva legal para tentar uma saída", diz Wilmar Mendonça, presidente da Fundação Emas. Ele próprio um produtor na região - tem 300 hectares na vizinha Costa Rica (MS) -, Mendonça crê que só haverá solução pela via do mercado. E nisso tem o aval de outras lideranças. "Nossa responsabilidade é casar progresso e qualidade de vida", afirma Hélio Cabral, presidente da Associação Comercial. A criação do Parque Estadual da Serra do Caiapó promete acirrar os ânimos na região. Contrapartida a um empréstimo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o parque não tem apoio irrestrito nem dos ambientalistas, que consideram exagerada a área a ser protegida. "Temos 500 fazendas e muitas famílias tradicionais por lá. Não dá para ignorar a tensão que isso causa", diz o biólogo Wilmar Mendonça. A Fundação Emas sugeriu reduzir de 340 para 240 mil hectares a área. (MZ)