Título: Decisão unânime surpreende
Autor: Ribeiro, Alex ;Guimarães, Luiz Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2007, Finanças, p. C1

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 11,25% ao ano. Com mais esse corte, chega a dois anos o atual ciclo de distensão da política monetária, que começou em setembro de 2005, quando a Selic estava em 19,75% ao ano.

A decisão veio dentro do esperado pela maior parte dos analistas, que já previam que o BC iria reduzir o ritmo de corte na taxa Selic, que até a reunião de julho foi de 0,5 ponto. Naquele encontro, três dos sete diretores do BC já haviam votado por uma estratégia mais cautelosa da política monetária. A partir de então, o mercado passou a apostar em um corte mais modesto dos juros, depois da crise nos mercados internacionais e de índices de inflação acima do esperado. A boa notícia na decisão do Copom foi que, ao contrário do chegaram a cogitar alguns analistas econômicos, nenhum dos membros do Copom defendeu a suspensão no ciclo de cortes na taxa básica de juros. O Copom vinha decidindo dividido desde março passado.

Na breve nota divulgada logo após a reunião, o BC diz que "o Copom avaliou a conjuntura macroeconômica e considerou que, neste momento, o balanço de riscos para a trajetória prospectiva da inflação ainda justificaria estímulo monetário adicional". O BC evitou se comprometer com qualquer decisão no encontro de outubro, indicando que "o comitê irá monitorar atentamente a evolução do cenário macroeconômico até a sua próxima reunião, para então definir os próximos passos".

As razões que levaram o Copom a desacelerar a redução dos juros só serão conhecidas na semana que vem, quando for divulgada a ata. Até julho, o Copom estava dividido em dois grupos. Um deles, que defendia cortes mais alentados de juros, afirmava que a economia entrou em um novo ciclo, em que fortes investimentos e o crescimento das importações permitiam que a demanda agregada se expandisse de forma mais robusta. O outro grupo, minoritário, afirmava que, após profunda distensão monetária, haviam aumentado os riscos de a inflação se acelerar acima do previsto.

O placa de 7 a 0 pegou de surpresa os analistas. A previsão majoritária era de que a decisão seria apertada, por escore de 5 a 2 ou mesmo de 4 a 3, com a dissidência optando por uma parada imediata do ciclo de afrouxamento. A ausência de diretores já predispostos a interromper as quedas pode indicar três possibilidades, duas delas antagônicas entre si. A primeira é de que o Copom está convencido de que há condições, tanto no cenário inflacionário doméstico quanto no das turbulências internacionais, para o prolongamento do atual ciclo de flexibilização. A sinalização contida seria de que irá cortar de novo a taxa Selic em 0,25 ponto em sua próxima reunião, marcada para 17 de outubro. A segunda é a de que o Comitê não tem certeza sobre os próximos passos de política monetária e, por isso, desistiu de indicar um caminho. A terceira é mais simples: o Copom abandonou o mecanismo de indução de expectativas por meio da construção de dissensos em placares, restituindo à ata a função original de predição do futuro.

O consultor Miguel Daoud, diretor da Global Financial Advisor, acredita que o recado inserido na unanimidade é o de que o Copom irá analisar cuidadosamente todos os indicadores internos e externos que saírem nos próximos 45 dias para só então decidir o que fazer. A mensagem é de que a decisão de outubro está em aberto, pode tanto persistir no corte de 0,25 ponto quanto proceder a uma pausa.

A reação que o mercado futuro de juros terá hoje é uma incógnita. Tecnicamente, as taxas têm de cair, pois os contratos estavam precificando apenas um corte de 0,25 ponto, o de ontem, e não dois até o fim do ano. Mas subirão se o mercado enxergar alguma leniência monetária.