Título: Aumenta a influência de militares nas negociações
Autor: Daniel Rittner e Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2005, Empresas &, p. B1

Praticamente afastados das decisões sobre a reestruturação societária da Varig até dois meses atrás, os militares da Aeronáutica ganharam um papel de destaque e agora exercem crescente influência nas negociações para salvar a maior companhia aérea do país. A cúpula da Força Aérea Brasileira é favorável à proposta de estatizar temporariamente a empresa, trocando suas dívidas com estatais por participação acionária, e ajudaram a convencer o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, de que essa é a alternativa mais viável. Alencar gosta de ouvir principalmente o comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos da Silva Bueno, que tem sido consultado com freqüência cada vez maior. A reunião de ontem com a diretoria da Varig e economistas do Unibanco teve também a participação do diretor-geral do Departamento de Aviação Civil (DAC), brigadeiro Jorge Godinho. Mais do que simbólicas, essas presenças marcam o fortalecimento dos militares nas discussões sobre o setor aéreo. Isso ocorre no momento em que se analisa um novo marco regulatório e a criação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), cujo projeto tramita no Congresso e tira das mãos dos militares a regulação exercida atualmente pelo DAC, dentro da hierarquia da Aeronáutica. É verdade, porém, que não saiu dos militares a idéia, neste governo, de estatizar temporariamente a Varig para depois revendê-la. Essa era a intenção original do ex-presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Carlos Lessa, que cogitava até uma participação mais longa do Estado na empresa. A idéia de Lessa, que contava com o apoio dos militares, foi sepultada pela equipe econômica e por técnicos do governo que trabalhavam de perto na busca de uma solução para a Varig. Desenhou-se uma solução que passava pela intervenção direta da União e a divisão da companhia em duas partes, com a ruim sendo liqüidada extra-judicialmente. Essa solução foi consensual entre Fazenda, Casa Civil e Defesa, então sob a gestão do ex-ministro José Viegas, que relegava os militares a um papel secundário nessa questão. Ao assumir o cargo de ministro da Defesa, Alencar tentou executar o plano elaborado pelos assessores de Viegas, mas encontrou resistência por parte de TAM e Gol, que entrariam na operação. Desapontado pelo fato de a solução anterior ter sido desenhada sem consultas mais avançadas com as duas aéreas, o que inviabilizou o plano, Alencar procurou pessoalmente uma nova engenharia para salvar a Varig e chegou à proposta da estatização temporária. Como defendiam algo semelhante, os militares suavizaram a idéia original de transformar o Estado em acionista da Varig de forma mais permanente. Caíram nas graças de Alencar, que reduziu proporcionalmente a participação de técnicos da Defesa, do BNDES e da Fazenda nas negociações. O ministro José Dirceu acha que a solução está demorando demais e a equipe econômica se opõe veementemente à proposta de estatização temporária, mas não se sente à vontade para divergir internamente do vice-presidente da República. Em conversas informais, são claros: acreditam que é bem mais difícil privatizar uma companhia aérea estatal do que estatizar uma empresa privada, principalmente em um setor com baixo retorno sobre os investimentos, como é a aviação civil. (DR)