Título: Empresas se financiam no mercado de capitais
Autor: Júnior, Altamiro Silva ;Valenti Graziella
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2007, Finanças, p. C4

Marisa Cauduro / Valor Patrick Conroy, diretor e assessor sênior do Banco Mundial: "O mercado de capitais brasileiro agora é de classe mundial e Novo Mercado é referência" O mercado de capitais se tornou a principal fonte de financiamento das empresas brasileiras. Este ano, já é responsável por dois terços dos recursos captados. Considerando só as operações de dívida (como debêntures e notas promissórias), a participação no financiamento das empresas saltou de 9,5% em 2000 para 29,3% em 2006, segundo levantamento de Carlos Rocca, consultor técnico do Ibmec.

Este ano, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já aprovou emissões que somam R$ 104 bilhões. "O mercado de capitais brasileiro agora é de classe mundial", afirma Patrick Conroy, diretor e assessor sênior do Banco Mundial. O executivo, que participou de um fórum ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), elogiou a atuação da CVM brasileira e, principalmente, o Novo Mercado da bolsa paulista, um dos únicos do mundo que deu certo.

Grande parte do crescimento do mercado de capitais brasileiro se deve aos investidores estrangeiros, ressalta o economista Eduardo Urdapilleta, também do Banco Mundial. Nas ofertas de ações, em média 70% dos papéis têm ficado no exterior. Na avaliação do executivo, para o Brasil continuar atraindo investidores lá de fora, é preciso aprimorar ainda mais a transparência e a proteção ao minoritário, além de procurar maior convergência com normas contábeis internacionais. "O mercado brasileiro extrapolou a América Latina. Pode ser comparado agora a países como Índia e China", disse.

Com o boom de ofertas, a Bovespa é hoje a bolsa que mais cresce no mundo, destaca o executivo do Banco Mundial. Mesmo assim, ainda é 20 vezes menor que a bolsa americana, embora seja duas vezes maior que a bolsa do México e cinco vezes a chilena.

Rocca, do Ibmec, acredita que os avanços no mercado de capitais brasileiros e o apetite dos investidores estrangeiros pelas empresas nacionais refletem também a melhoria nos fundamentos das empresas. Ele destaca que o retorno sobre o patrimônio das companhias abertas brasileiras passou de 7% para 13%, na comparação entre 2000 e 2006. Nesse intervalo, a relação entre o valor da companhia em bolsa e seu patrimônio líquido subiu de um intervalo de 1,0 a 1,5 para uma faixa entre 2,5 e 3,0 vezes. Já a relação entre as cotações e o lucro aumentou de 12 para 17.

Dessa forma, Rocca enfatiza que o cenário atual é reflexo de um conjunto de vários fatores. Para ele, talvez o número de ofertas públicas inicias de ações (IPO) caia nos próximos meses. No entanto, avalia que não haverá mudança no processo de consolidação do mercado de capitais como principal fonte de financiamento das companhias. "Este é o papel do mercado", afirma, destacando que os países que crescem mais têm um mercado de capitais bem desenvolvido.

Já o diretor da CVM, Durval Soledade dos Santos, chama atenção para o aumento da variedade das companhias abertas brasileiras. No total, diz ele, há atualmente 566 companhias ativas. Somente nesse ano, a autarquia concedeu registro a 59 empresas, até o final de agosto.

Dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) mostram que os recursos captados com emissões de debêntures este ano são basicamente usados para capital de giro (80%). No ano passado, esse uso respondia por 42%, seguido por 39% usados para aquisições de participações acionárias.

Já na renda variável, as emissões de ações têm sido usadas este ano para captar recursos para capital de giro (23%), atividades operacionais (33%), aquisição de ativos (15%) e aquisição de participação acionária (18%). No ano passado, redução de passivos foi o item mais utilizado, com 32% dos recursos.

Não é só o financiamento via emissão de ações que vem crescendo. Dados da Uqbar mostram que o mercado de securitização já cresceu 49% este ano, movimentando R$ 7,8 bilhões até o final de julho. Carlos Augusto Lopes, da Uqbar, destaca que o mercado vem se diversificando em termos de emissores e por ramo de atividade.