Título: Oferta global menor pode inflar exportação de arroz
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2005, Agronegócio, p. B10

A oferta mundial de arroz inferior ao consumo e as previsões de perdas na produção asiática em decorrência dos tsunamis estão ajudando a sustentar as cotações internacionais do cereal. Para o Brasil, os preços aquecidos podem estimular as ainda incipientes exportações de arroz, que em 2004 totalizaram 36,28 mil toneladas de grão beneficiado, 126,4% acima do resultado de 2003, segundo dados da Secex. Segundo informações da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), a cotação do arroz na Tailândia - um dos principais países formadores dos preços externos - estão 45% mais altos que em janeiro de 2003, e sai, em média, a US$ 295 por tonelada. Para Marco Aurélio Tavares, diretor da Federarroz, há perspectivas de que os preços superem US$ 300 neste ano, aproximando-se do recorde histórico de US$ 340, alcançado em 1997 durante a crise dos países asiáticos. "O cenário internacional pode ajudar a colocar o Brasil definitivamente no grupo de exportadores de arroz", afirmou Tavares.

Pesa a favor do Brasil o déficit mundial de arroz, estimado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em 13,7 milhões de toneladas na safra 2004/05. A safra mundial é prevista em 398,2 milhões de toneladas, 2% acima da anterior, mas ainda abaixo da previsão de consumo, de 411,9 milhões de toneladas. Os estoques finais estão projetados em 71,8 milhões de toneladas, 16% abaixo do ciclo passado e o nível mais baixo desde 1983/84. O Brasil, por sua vez, deve ter safra estável em 12,6 milhões de toneladas e o estoque final atingirá 1,9 milhão de toneladas, conforme dados da Conab. Reforça o quadro um estudo feito pela FAO, braço das Nações Unidas para agricultura e alimentação, mostrando que as perdas causadas pelos tsunamis na Indonésia, Sumatra e Sri Lanka podem variar de 7,6 milhões a 14,6 milhões de toneladas, o que corresponde a 2,4% da safra mundial. Também houve perdas nas estruturas de irrigação, o que deve resultar em redução das safras seguintes. Michael Mc Dougall, vice-presidente sênior da Fimat Futures, observou que Inglaterra e Estados Unidos também tiveram problemas climáticos e devem incrementar as suas importações neste ano. "A perspectiva é de preços firmes para o arroz", disse. Nos Estados Unidos, as cotações na bolsa de Chicago registram queda devido ao período de colheita e à safra superior à passada. Os contratos de segunda posição estão cotados, em média, a US$ 7,11 por 100 libras (45,36 quilos), 17% abaixo da média de janeiro de 2004, segundo cálculo do Valor Data. Ainda assim, a tonelada do arroz tipo 1 (similar ao produzido no Brasil) sai, em média, a US$ 340 a tonelada. Comparada à saca de 50 quilos no Rio Grande do Sul, o preço equivale a R$ 44, enquanto a saca brasileira é vendida hoje a R$ 23,50 por saca, de acordo com José dos Santos, analista da Correpar. A tonelada brasileira está saindo em torno de US$ 174 ao produtor, o que facilitaria a exportação para outros países. Pery Coelho, presidente do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), disse que as exportações estão crescendo, tendo atingido 55,2 mil toneladas de arroz base casca. Segundo ele, empresas estão negociando novas entregas para este início de ano e a previsão é atingir 100 mil toneladas até março.