Título: Amorim pede fim de embargo russo
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2005, Agronegócio, p. B10

Tornou-se motivo de desentendimento político entre o Brasil e a Rússia a demora do governo russo em retirar totalmente o embargo à carne brasileira, motivado pela notificação de um caso de febre aftosa no Amazonas. Em carta enviada nesta semana ao ministro dos negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que as dificuldades para os exportadores brasileiros já causa "grande preocupação" ao governo. Amorim cobrou do colega russo a ampliação das cotas de exportação de carne brasileira para o país, e acusou de inconsistentes com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) as salvaguardas impostas pela Rússia a importações de carne. A Rússia não é sócia da OMC, mas negocia com os outros países - inclusive o Brasil - seu ingresso na organização. A forma como os russos vêm manejando as salvaguardas, com promessa de ampliação de cotas para países como os Estados Unidos e os sócios da União Européia e redução do acesso ao Brasil é "injusta" e premia nações responsáveis por subsídios á produção que distorcem as condições de comércio, acusou o ministro. O ministro brasileiro afirma que "ainda mais sério" é a quantidade de problemas com medidas sanitárias - como o embargo a pretexto do caso de febre aftosa. "As condições sanitárias do rebanho bovino brasileiro não justificam tal medida", afirma Amorim, que cita o grande número de missões técnicas, com "total transparência e massivas evidências" da qualidade da carne brasileira, enviadas à Rússia para esclarecer as dúvidas das autoridades sanitárias do país. O Brasil é grato ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, que em sua visita ao país, em novembro passado, anunciou o levantamento do embargo para os exportadores de Santa Catarina, afirma Amorim. Entretanto, diz ele, o governo brasileiro imaginou que Santa Catarina seria apenas "o primeiro passo em um processo de liberação gradual" das exportações dos outros estados brasileiros, "igualmente distantes" do foco da aftosa, a quatro mil quilômetros das principais áreas produtoras. Na carta, em que trata o ministro pelo primeiro nome, Serguei, evocando os quatro anos em que ambos representaram, juntos, seus respectivos países, em Nova York, Amorim - que assina "Celso" na carta - cobra de Lavrov medidas para permitir "competição mais justa" dos exportadores brasileiros no mercado russo. Ele pede, também, em curto prazo, a concessão de uma cota ao Brasil "correspondente à sua capacidade de produção", de acordo com os níveis registrados em 2002 e 2003. Amorim diz, ainda, esperar a intervenção de Lavrov no governo russo, para "propostas construtivas" em relação ao embargo à carne bovina. "Esperamos a solução técnica do problema, agora o tema tornou-se assunto de estado, na esfera política", enfatizou o porta-voz do Itamaraty, Ricardo Neiva Tavares. A Rússia é um dos principais importadores de carne do Brasil, com compras de 83 mil toneladas de carne bovina, 300 mil de carne suína e 212 mil de carne de frango, em 2003. Em 2004, contrariamente às expectativas dos exportadores, o volume de vendas para os russos cresceu mais de 40%, segundo os dados disponíveis até novembro. A ação do Itamaraty, em seguida a uma nota oficial do Ministério da Agricultura anunciando o fim dos esforços técnicos de negociação, foi de um modo geral bem recebida pelos exportadores, mas considerada tardia pelo presidente da Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Carne Suína (Abipecs), Pedro Camargo Neto. "Antes tarde que nunca", afirmou Camargo Neto, que acusa a Rússia de desrespeitar as normas da Organização Internacional de Epizootias (OIE). "O governo não reagiu à altura no inicio do problema; deixou que o Presidente Putin fizesse escala no Brasil sem equacionar o problema", criticou.