Título: Varejo espera Natal forte e antecipa pedidos à indústria
Autor: BuenoSergio, , Jurgenfeld, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 17/09/2007, Brasil, p. A3

Jose Carlos Hruby, da Lojas Renner: próximo Natal tem tudo para ser o melhor dos últimos cinco anos Animado com as taxas chinesas de crescimento das vendas domésticas - no primeiro semestre a alta superou 13% -, parte do varejo decidiu antecipar suas encomendas à indústria e outra parcela aumentou a participação de importados no mix de produtos oferecidos aos consumidores. A rede Lojas Cem já encaminhou à indústria uma previsão de vendas que embute alta de 15% sobre dezembro de 2006, enquanto a gaúcha Colombo antecipou em 20 dias o início de suas encomendas, planejando vender 10% mais no Natal - o dobro da taxa registrada no ano passado. No Paraná, a própria indústria sugeriu aos executivos da rede Gazin, que comprassem mais - e logo. E as 132 unidades da Lojas Maia espalhadas pelo Nordeste se preparam para um crescimento de 20% nas vendas de fim de ano em relação ao mesmo período de 2006.

A Lojas Colombo, maior rede de eletroeletrônicos e móveis do Rio Grande do Sul, começou na semana passada a programação de encomendas para o fim do ano. Os pedidos estão sendo encaminhados aos fornecedores com 15 a 20 dias de antecedência, disse o diretor comercial da empresa, Arnildo Heimerdinger, que prevê uma expansão de 10% na receita bruta em 2007, sobre R$ 1,2 bilhão em 2006.

A Lojas Renner, principal varejista de vestuário e acessórios com sede no Sul, manteve o cronograma das encomendas entre julho e agosto, mas o diretor administrativo e de relações com investidores, José Carlos Hruby, admite que pode ocorrer falta de alguns itens em janeiro ou fevereiro.

Na Colombo, as vendas acumuladas das 340 lojas em cinco Estados nos oito primeiros meses aumentaram 8% em relação a 2006. De acordo com Heimerdinger, a expansão está sendo puxada pelas linhas de televisores LCD e informática, com alguns produtos até 50% mais baratos do que no ano passado. Neste fim do ano a Colombo pretende repetir a contratação temporária de 600 a 700 pessoas, o equivalente a cerca de 10% do quadro fixo de funcionários.

Na Lojas Cem, a queda nos preços é apontada por Valdemir Coleone, supervisor geral, como um dos fatores que fizeram com que as vendas crescessem 8% neste ano. Hoje, segundo ele, seus preços estão, em média, 9% mais baratos do que no mesmo período do ano passado. O real valorizado aumentou a concorrência no mercado interno e baixou os preços. A linha mais beneficiada foi a marrom, que engloba televisores, DVDs e aparelhos de som. Ela ficou cerca de 25% mais barata.

A Renner espera um crescimento de 10% a 12% pelo critério de vendas nas mesmas lojas (que considera os pontos com pelo menos 13 meses de operação). Até junho o índice foi de 9,3%, mas Hruby antevê um segundo semestre "muito positivo". "Os consumidores estão confiantes na economia", disse ele, para quem o próximo Natal tem tudo para ser o melhor dos últimos cinco anos e sem pressões dos fornecedores por aumentos de preços. Com 87 lojas (serão 91 até o fim do ano), a Renner deve contratar mais temporários do que os 1,9 mil do ano passado.

Até agora, o crescimento da Havan, rede de lojas de departamento, está em 35% e a expectativa é que ele ganhe força com a proximidade do Natal e pela abertura de quatro lojas nos próximos três meses, somando 14 em Santa Catarina e Paraná. Entre os produtos que estão puxando o desempenho estão brinquedos, cujas vendas subiram 90% em relação a 2006, e artigos de cama, mesa e banho e utilidades para o lar, com alta de 60%.

Edson Diegoli, diretor administrativo, credita o bom desempenho à conjuntura econômica, em especial ao aumento da renda e ao crédito. Segundo ele, foi reforçado o cartão Havan, administrado pela própria rede, que já responde por 35% das vendas totais - em 2006, era 25%. No cartão, a política tem sido agressiva, com compras em cinco vezes sem juros em diversos itens da loja, e em dez vezes para móveis. Com previsão de um Natal 50% mais forte do que o de 2006, a rede resolveu antecipar as encomendas junto à indústria. As compras começaram em agosto, um mês antes do tradicional período.

É justamente o alongamento do prazo das compras que, junto com a expansão do crédito, tem permitido ao varejo mostrar taxas de crescimento tão vigorosas, explica Maurício Moura, professor do Ibmec-SP. O economista confessa que no começo deste ano estava preocupado com o destino das taxas de inadimplência. "Nos últimos três anos tivemos um incremento jamais visto no crédito e não sabíamos como o consumidor brasileiro reagiria a isto", diz o economista. Até agora, felizmente, o número de dívidas em atraso está sob controle e, ao mesmo tempo, a renda do trabalhador tem aumentado. Moura espera que o ritmo de crescimento mantenha-se forte até o final do ano e projeta alta de 12,5% nas vendas do varejo.

Este cenário positivo fez com que ns últimos dez dias, o departamento de compras da rede Gazin, que possui 125 lojas no interior do Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre, Rondônia e Amazônia, recebesse orientação de representantes de três indústrias para que comprasse mais. Segundo a gerente comercial, Armelinda Michelan, as sugestões foram feitas pelos fabricantes das marcas Semp Toshiba, LG e Cônsul.

"Estamos reforçando os pedidos", diz ela, que não teme desabastecimento justamente porque sentiu que os fornecedores estão atentos ao ritmo de consumo. O planejamento anual da Gazin previa crescimento de 20% em 2007. Armelinda disse que o resultado do primeiro semestre, quando o crescimento registrado foi de 6%, pode atrapalhar os planos. A reação começou mesmo no segundo semestre.

A Lojas Maia, instalada no Nordeste, já fez as encomendas para garantir vendas 20% maiores no fim de ano. "Até agora, crescemos nesse ritmo. E a conjuntura econômica aponta para a continuação dessa trajetória", diz Marcelo Maia, diretor comercial da Lojas Maia.

Entre os itens que mais devem vender neste ano, Maia lista os telefones celulares e computadores. Para esse produtos, as encomendas foram reforçadas: 40% maiores na comparação com o ano passado. O ritmo de contratação de funcionários temporários para a época de festas também subiu. No ano passado foram 450 pessoas, e agora serão de 600 a 700 temporários.