Título: Ajuda da UE pode dobrar
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 14/01/2011, Economia, p. 14

Membros da Zona do Euro planejam aumentar recursos do fundo de socorro para 1,5 trilhão de euros. Nos EUA, desemprego preocupa, mas presidente do BC prevê crescimento de 3% a 4% em 2011

Diante dos crescentes rumores de que mais países ¿ além de Grécia e Irlanda, que já recorreram a pacotes ¿ precisarão de financiamento, os países da União Europeia (UE) pretendem duplicar a ajuda disponível para os Estados da Zona do Euro que passam por dificuldades financeiras em até 1,5 trilhão de euros. ¿Duplicar os recursos seria um objetivo razoável. Seria o lógico¿, disse o ministro belga das Finanças, Didier Reynders, em referência ao fundo de resgate criado em maio passado.

Reynders confirmou que existem conversações entre os Estados europeus a respeito do aumento dos aportes e acrescentou que também a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu ¿começam a analisar a possibilidade¿. Um aumento dos recursos do mecanismo é considerado necessário por muitos economistas, para tentar acabar definitivamente com a preocupação que abala desde o ano passado o mercado: a crise da dívida pública na Zona do Euro

O fundo foi, inicialmente, criado para ajudar a Grécia, com 440 bilhões de euros acrescidos em seguida de empréstimos de até 250 bilhões de euros do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de 60 bilhões de euros da Comissão Europeia, totalizando 750 bilhões de euros (quase US$ 1 trilhão). Reynders é favorável à proposta de aumento dos recursos do fundo.

Incertezas No cenário internacional, predomina o clima de incertezas. Apesar de o Banco Central Europeu ter mantido ontem em 1% ao ano a taxa de juros básica da economia da região, o presidente da instituição, Jean-Claude Trichet, disse que a economia da Zona do Euro enfrenta pressões por altas de curto prazo, que precisam ser observadas de perto. A inflação subiu para 2,2% mês passado, a primeira vez em dois anos que a taxa ficou acima da meta do BCE, de 2%.

No mesmo dia, os Estados Unidos anunciaram que o número de pedidos de auxílio-desemprego subiu inesperadamente na última semana, atingindo o maior nível desde outubro. Houve aumento de 35 mil solicitações do benefício, totalizando 445 mil. O presidente do Federal Reserve (BC dos EUA), Ben Bernanke, previu um crescimento econômico entre 3% e 4% na economia do país em 2011. ¿Agora, isso não vai reduzir o desemprego no ritmo de que gostaríamos¿, ponderou.

China paga mais A China comprou um bilhão de euros da dívida portuguesa a uma taxa mais elevada que a exigida pelo mercado. ¿O Estado português pagará uma taxa de juros de 4,75% para uma emissão de um bilhão de euros a 18 meses, superior à dos mercados¿, noticiou o Jornal de Negócios. Na quarta, a taxa de juros dos bônus do Tesouro Português a dois anos era de 3,970% no fechamento. A informação, que não cita fontes, foi antecipada no início da semana pelo Correio da Manhã, que dava o montante de um bilhão de euros e precisava que a China havia exigido que a operação permanecesse ¿confidencial¿, além de proibir qualquer referência à taxa de juros. Na véspera, o ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, confirmou que foi realizada uma colocação de bônus privada há pouco mais de uma semana, mas não quis revelar o montante e o comprador. O governo afirma que não solicitará ajuda internacional, alegando possuir os meios de financiar-se nos mercados após ter melhorado sua situação fiscal.

9 bi de euros para Itália e Espanha

No dia seguinte ao qual Portugal conseguiu vender 1,25 bilhão de euros em títulos da dívida, com taxas abaixo das esperadas pelo mercado, Itália e Espanha também foram bem-sucedidas em emissões que totalizam 9 bilhões de euros. O Tesouro italiano emitiu ontem seis bilhões de euros em obrigações. As taxas de juros foram de 3,67% para os bônus com prazo de 5 anos (contra 3,24% em uma emissão similar em 12 de novembro) e de 5,06% com vencimento em 15 anos (contra 4,81% na última emissão do mesmo tipo). A demanda total chegou a 8,5 bilhões de euros.

A Espanha, por sua vez, lançou no mercado quase 3 bilhões de euros em bônus, com prazo de cinco anos, a uma taxa mais alta que na emissão anterior, mas mais baixa que no fechamento dos mercados na véspera, afastando o temor de que o país precise de um plano de resgate como o que foi concedido à Grécia e à Irlanda.

O Tesouro espanhol, que previa arrecadar entre 2 e 3 bilhões de euros, levantou 2,999 bilhões de euros a uma taxa média de 4,54%, segundo informo o ministério da Economia. Esta taxa é bem mais alta que os 3,576% da emissão anterior de bônus com prazo de vencimento de cinco anos, de 4 de novembro, mas é mais baixa que os 4,767% registrados na quarta-feira, segundo previsto no fechamento dos mercados para os bônus espanhóis desse tipo. Além disso, houve forte demanda, de 6,308 bilhões de euros.

¿O Tesouro espanhol começou muito bem o ano, com uma boa demanda, 2,1 vezes superior à oferta (frente a 1,6 vez em novembro) e uma demanda estrangeira de 60%: é um sinal muito bom de que a Espanha é capaz de financiar-se no mercado a custos razoáveis¿, avaliou Natalia Aguirre, analista da sociedade Renta 4. ¿A emissão foi um êxito, com uma taxa num nível aceitável¿, concordou David Schnautz, analista do Commerzbank.

Nos últimos meses, o Tesouro espanhol emite dívidas a taxas sempre crescentes, frente à pressão dos mercados, tanto sobre Portugal, como sobre a Espanha, pelas dúvidas sobre sua capacidade de pagar sua dívida. Esta pressão é persistente desde que se aprovou o plano de resgate para a Grécia e a Irlanda em 2010 por seus altos deficits orçamentários e nível de endividamento. O mercado teme que Portugal e Espanha sejam os próximos a precisar de ajuda financeira internacional.