Título: O impacto em 2010 será diminuído
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Fonte: Valor Econômico, 17/09/2007, Política, p. A9

Rachel Meneguello: imagem negativa do Congresso é histórica O desgaste da imagem do Senado com a absolvição do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), reforça uma tendência histórica da "imagem negativa" do Congresso. Nos últimos dez anos, as pesquisas sobre a percepção pública da atuação dos parlamentares e do Congresso mostram que em média 30% da população avaliam negativamente a instituição. No final de 2006, um ano depois do escândalo do mensalão, essa avaliação negativa chegou a 57%, segundo uma pesquisa pós-eleitoral realizada pelo Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Unicamp e IPSOS (Estudo Eleitoral Brasileiro).

Os dados são lembrados pela diretora associada do Cesop/ Unicamp, Rachel Meneguello, pesquisadora das áreas de "estudos eleitorais e partidos políticos" e "comportamento político". A análise dos dados somada à leitura da blindagem de Renan pelo governo mostram um claro cenário de descrédito no Legislativo brasileiro. "Não é difícil supor que este percentual está pelo menos mantido depois do episódio da absolvição do presidente do Congresso", aponta Rachel.

A mesma pesquisa realizada no final de 2006 mostra que a população, entretanto, não está alienada quanto aos representantes escolhidos para o Senado. Dos eleitores entrevistados sobre sua escolha para o Senado, 70% lembravam do voto. "Essa é uma taxa alta de memória do voto, associada certamente à lógica do sistema majoritário. Sem o registro aberto da votação, o impacto na próxima eleição para o Senado, ainda em 2010, será bem diminuído", afirma a pesquisadora.

Doutora em ciências sociais e autora dos livros "Partidos e Governos No Brasil Contemporâneo" e "Partidos Políticos e Consolidação Democrática: o caso brasileiro", a professora livre-docente da Unicamp analisa que o resultado da votação foi "mais uma pressão" entre poderes Executivo e Legislativo. E isso reflete também o jogo de interesses no Congresso "para a manutenção da estrutura estabelecida pela presidência de Renan".

O empenho do governo federal e dos aliados em blindar o presidente do Senado, entrentanto, pode se reverter em prejuízos para o próprio Executivo, com a instabilidade política no Legislativo, amplificada pela oposição. "É provável que os interesses do governo sejam prejudicados, no mínimo pelas ameaças de boicote a sessões presididas pelo atual presidente", diz Rachel.

Mesmo com uma imagem tão negativa, o Senado é essencial na manutenção do equilíbrio de poderes entre os Estados. Uma medida radical, como a extinção da Casa, seria prejudicial à Federação. "Nosso Senado não tem apenas função revisora da Câmara, ele representa os estados e sua extinção quebraria o equilíbrio federativo estabelecido pelo sistema atual. A defesa dessa idéia que emerge por conta da absolvição de Renan Calheiros é emocional", considera Rachel. A professora defende, entretanto, mudanças nas regras da Casa, como a revisão de mandato e a redefinição da suplência. Além do voto secreto. "A votação secreta foi fundamental para a absolvição; longe da mídia, da fiscalização do eleitor e do registro aberto do voto, os parlamentares puderam agir sem controle." . (CA)