Título: Apesar de reação, Maia e Cabral mantêm conversas
Autor: Magalhães, Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 17/09/2007, Política, p. A10

Houve reações inflamadas durante a semana passada, mas a aliança para a escolha de um nome de consenso para disputar a Prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições municipais de 2008 continua em pauta nas conversas entre o governador do Estado, Sérgio Cabral e o DEM, do prefeito da capital, Cesar Maia. Em almoço com o ministro dos Esportes, Orlando Silva, na sexta-feira, Maia e Cabral mantiveram o clima de cordialidade e parceria.

Cabral chegou a reagir com veemência no início da semana ao encontro da cúpula do PMDB, com a presença do ex-governador Anthony Garotinho, o prefeito carioca e o presidente do DEM Rodrigo Maia, na casa do presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Picciani. O atual governador rechaçou o clima de aliança oposicionista ao governo Lula do seu partido com o DEM e chegou a dizer que para ajustar o processo, se preciso for, renuncia ao governo do Estado e ele mesmo disputa a Prefeitura do Rio.

Garotinho é crítico ácido do governo Lula e do próprio Cesar Maia. Mas o prefeito carioca não parece nem um pouco preocupado com a presença do ex-governador na escolha de candidatos às eleições municipais. Para ele, trata-se de uma aliança entre partidos e, não há como fugir, pois Garotinho é presidente regional do PMDB.

Tampouco mostra preocupação de que o seu eleitor identifique incoerência e deixe de votar nele no caso de uma candidatura ao Senado. Em entrevista ao Valor, por e-mail, Maia lembrou: "Cabral teve apoio explícito dele (Garotinho) e nada ocorreu. Menos ainda com candidato que é de outro partido", disse.

Maia avalia que independente das disputas internas dentro de partidos "a campanha dá marca aos candidatos". Disse que "os candidatos são personagens. Com exceção do PC dos anos dourados, sempre foi assim. Os partidos são muito importantes na base do voto e os candidatos na opinião pública. Essa será a nossa vantagem". E frisou que o nome de consenso para disputar a prefeitura do Rio fruto da aliança será do DEM e com o número do PMDB para vice-prefeito.

Para fonte próxima a Cesar Maia, a reação de Cabral contra o encontro na casa de Picciani com a presença de Garotinho é mais espuma do que um fato. Para essa fonte, a origem da reação de Cabral tem nome e chama-se presidente Lula. Este não estaria satisfeito com a aproximação de Cabral com o DEM, de Cesar Maia e essas negociações com o prefeito foram iniciadas pelo próprio governador. O prefeito carioca não poupa críticas ao governo Lula, o que incomoda o presidente.

Cabral disse ao Valor que a aliança que participa em torno da escolha de um nome para disputar a prefeitura carioca passa realmente pela aprovação do presidente da República pois, para ele, a aproximação com o governo federal tem sido fundamental para o Rio de Janeiro. Ele lembrou que o Estado está sendo o primeiro a ter liberados recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Mas o governador disse, também, que não apóia a candidatura de Marcelo Crivella (PRB) para a Prefeitura do Rio, independente das informações que circulam de que o senador conta com a simpatia do presidente Lula. "Tenho um candidato do coração que é Eduardo Paes", disse o Governador. Paes, tucano e secretário estadual de Esportes, disputou o governo do Estado em 2006 e no segundo turno apoiou Cabral. Mas, o governador admite que Paes não quer deixar o PSDB.

A questão vai ser o nome de consenso e o aval do presidente Lula, sem ferir o PT fluminense. Além disso ainda é cedo para prever a real disposição de correntes do PMDB, em especial a ligada a Garotinho, de não indicar um nome do partido.

O PT está atento. Na sexta-feira a executiva estadual divulgou nota declarando que não acredita "que o governador Sérgio Cabral, aliado e merecedor de todo apoio do PT e do presidente Lula, tenha se envolvido em um acordo contra o partido. A aliança entre o governador Sérgio Cabral e o presidente Lula tem facilitado muitos investimentos da União no Rio de Janeiro. Acreditamos que esse bom relacionamento do governo federal deve se repetir em relação ao novo prefeito da cidade", dizia a nota.

E o PT informou que disputará as eleições de 2008 com candidato próprio. "Nossa proposta é construir uma ampla aliança com os partidos da base aliada do Governo federal, incluindo o PMDB. Nosso objetivo é vencer as eleições na capital e no maior número possível de municípios fluminenses".