Título: IRB reestrutura estratégia para competir
Autor: Junior, Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 17/09/2007, Finanças, p. C4

Mudanças na gestão operacional, nas finanças, na área de recursos humanos, desenho de um novo plano estratégico e até venda de terrenos e participações em shopping centers fazem parte das mudanças que estão ocorrendo no IRB Brasil Re, resseguradora estatal que até agora detinha o monopólio do mercado no Brasil. A empresa corre para se preparar para a abertura do mercado, que começa a valer a partir de janeiro, quando o IRB terá de competir com grandes companhias estrangeiras. Uma das opções em estudo é abrir o capital na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) em 2008.

"O IBR vai perder participação relativa no mercado. Mas na medida em que o setor de seguros crescer, vamos ganhar em volume de negócios", afirma Otávio Ribeiro Damásio, presidente do conselho de administração do IRB. Na sua avaliação, o fato de o país praticamente não ter catástrofes naturais aliado ao crescimento da economia e ao potencial do mercado de seguros, que pode dobrar de tamanho em quatro anos, vai atrair grandes resseguradoras estrangeiras. Comenta-se que pelo menos 15 resseguradoras já avaliam a atuação no país. O Brasil não figura em nenhuma lista das 10 maiores catástrofes no período de 1970 a 2006, tanto em número de vítimas quanto em indenizações.

O IRB foi criado em 1939 e por mais de 70 anos ficou com o monopólio do mercado. Pelas regras da abertura, ainda vai ter uma "preferência" de 60% dos prêmios por três anos, percentual que cai para 40% após este período. Ou seja, as seguradoras que operam no país vão ter que procurar primeiro a estatal. Se o IRB não quiser o contrato, a companhia pode ir ao exterior. Esta reserva, porém, vale não só para o IRB, mas para qualquer ressegurador que queira operar no país e abra empresa aqui como "ressegurador local".

Para se preparar para este novo cenário, o IRB está em fase final de seleção de uma consultoria para traçar um plano de negócios que vai avaliar o mercado mundial e definir planos de ação para a empresa. Damásio disse que o segmento de seguros de vida é um dos que o IRB está mais interessado e que tem maior potencial de crescimento, pois é pouco desenvolvido no Brasil e ainda será exclusivo do "ressegurador local". Além disso, a estatal aposta nos ramos de construção civil, que passa por um boom, além de riscos de petróleo, por causa do grande montante de investimentos previstos pela Petrobras, e dos riscos industriais.

Além da redefinição da estratégia de atuação, o IRB vai contratar uma agência de avaliação de risco para, pela primeira vez em sua história, ter um rating. Outro plano é ampliar e reforçar as operações do escritório em São Paulo, onde está boa parte do mercado. Além disso, o IRB está adotando práticas de governança corporativa, comuns em empresas que se preparam para abrir o capital, dentro do projeto de modernizar sua gestão. Para treinar os funcionários, fez convênio com o Coppead e está enviando profissionais para treinar lá fora. No ano passado, pela primeira vez em oito anos, mudou sua empresa de auditoria e contratou a Deloitte, que exigiu uma série de ajustes contábeis e financeiros.

"Queremos competir de igual para igual com as resseguradoras internacionais", diz Damásio, afirmando que a preocupação com a abertura fez dobrar as reuniões do conselho de administração, que agora se reúne a cada 15 dias.

O principal problema apontado pelos especialistas para o "novo IRB" é que ele ainda vai continuar sendo estatal. "Em um mercado aberto, o IRB vai precisar de mais agilidade. Como estatal, tem muitas amarras. Até para fazer uma viagem internacional precisa de publicação no 'Diário Oficial'", afirma Paulo César Pereira Reis, vice-presidente da Transatlantic Re e presidente da recém-criada Associação Brasileira das Empresas de Resseguro (Aber).

Já outros executivos destacam que o IRB, por causa dos 70 anos de monopólio, é quem mais entende e conhece o mercado segurador brasileiro. "O IRB tem condições de ser a Petrobras do resseguro no Brasil", avalia Carlos Alberto Protásio, presidente do Associação Brasileira dos Corretoras de Resseguro (Abecor), destacando que a estatal perdeu o monopólio do petróleo há dez anos e conseguiu sobreviver e virar uma das maiores empresas mundiais. "O IRB é um ativo que vale bilhões", destaca Pedro Guimarães, diretor do UBS Pactual, que participou do na semana passada do IV Conseguro - congresso do setor.

O jornalista viajou a convite do IV Conseguro