Título: Debate conclui que reforma política é inviável
Autor: Rosas, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2007, Política, p. A8

O sistema político brasileiro sofreu duros ataques ontem durante o "Fórum Especial: A Grande Revolução - Integração de Desenvolvimento e Democracia", organizado pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), comandado pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso. Em painel, cientistas políticos e parlamentares foram unânimes em criticar o sistema político e a falta de representatividade dos partidos. Também foi unânime a conclusão de que não há chance de que a reforma política seja concluída na atual legislatura.

Os ataques mais fortes ao arranjo político vieram do cientista político e ex-embaixador do Brasil em Cuba, Luciano Martins, para quem muitas vezes alianças políticas no país visam a repartir o "butim".

Defensor de uma ampla reforma, ele ressaltou que falta aos partidos consistência programática e lembrou que na atual legislatura 37 deputados mudaram de partido entre a eleição e a posse - foram 34 mudanças de partido entre a eleição de 2002 e a posse. "Se as reformas são necessárias e dificilmente serão discutidas nessa legislatura, é viável a convocação de uma constituinte específica sobre o tema?", indagou.

Octávio Amorim Neto, professor da FGV, cobrou a reforma dos partidos de direita, que, segundo ele, não conseguem ser populares e programáticos. "São os maiores responsáveis pela baixa institucionalização do Congresso e resistem a mudanças que fortaleçam a Casa".

Entre os parlamentares, mais criticas. Jefferson Péres (PDT-AM) comparou o Brasil de 50 anos atrás com o de hoje. Para ele, o cenário mudou do subdesenvolvimento com um bom quadro partidário para um país em desenvolvimento com um quadro político degenerado. "Há fisiologismo nas relações institucionais e o Congresso chantageia o Executivo em todos os níveis", disse.

Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP) foi taxativo ao afirmar que a reforma não vai adiante. "É um cadáver insepulto", definiu. Ideli Salvatti (PT-SC), defendeu a tese de que o Congresso não reflete a sociedade. Para ela, a principal necessidade da reforma política é adequar a composição dos partidos às mudanças já registradas em pesquisas como a PNAD, que mostram constante aumento da renda e redução da pobreza no Brasil. "Essas pessoas que ascenderam socialmente, mas não se organizaram, ainda não foram absorvidas pelos partidos".