Título: Blecaute no Rio paralisa produção de sete usinas da Vale
Autor: Schüffner, Cláudia ;Durão Vera
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2007, Brasil, p. A6

O miniblecaute que afetou o interior do Rio, na área atendida pela Ampla, e toda a área de concessão da Escelsa, no Espírito Santo, levou à paralisação de sete usinas pelotizadoras da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), em Vitória. O problema ocorreu em linhas de transmissão de Furnas Centrais Elétricas e provocou a perda de 1.300 megawatts (MW) de potência no sistema do Sudeste. Com o acidente, o Rio quase deixou de exportar energia para o Espírito Santo, que foi socorrido por Minas Gerais.

A Vale informou que a falta de energia afetou o embarque de minério e pelotas da companhia. A empresa deixará de produzir 100 mil toneladas de pelotas. Rodrigo Ferraz, analista de mineração da Brascan Corretora, calcula, com base num valor de US$ 77,53 a tonelada/FOB de pelotas de minério de ferro, que a Vale deve ter tido um prejuízo de US$ 7,7 milhões. Até às 16 horas de ontem duas pelotizadoras da Vale tinham voltado a a operar normalmente. E depois das 18 horas todas tinham voltado a funcionar.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou ontem que as causas do blecaute ainda não tinham sido identificadas por Furnas, dona das linhas de transmissão Ouro Preto-Vitória, Macaé-Campos e Campos-Vitória. Furnas informou que essas linhas voltaram a operar normalmente entre 15h03 e 15h43 da tarde de ontem. Até a noite, Furnas não tinha identificado nenhuma falha de equipamentos, nem de operação e manutenção.

O ONS informou que Furnas "identificou danos em cadeias de isoladores" nos dois circuitos das linhas de que ligam Macaé a Vitória. Os equipamentos começaram a ser substituídos às 11 horas de ontem. Durante todo o dia ocorreram reuniões entre técnicos do ONS e das distribuidoras. Mas só na próxima semana o ONS deverá divulgar um relatório sobre o blecaute. Ao reconstituir a sucessão de problemas, o ONS explicou que os primeiros eventos ocorreram nas linhas Macaé-Campos e Campos-Vitória. Mesmo assim, as linha Ouro Preto-Vitória e outra menor, a Governador Valadares-Aimorés-Mascarenhas "seguraram" o sistema por algum tempo.

Mas às 17h51, perto do horário de pico, enquanto Furnas tentava restabelecer o sistema, essa linha não aguentou a sobrecarga e se desligou ou, "rompeu", como dizem os técnicos. Foi quando o Norte do Rio de Janeiro e todo o Espírito Santo apagaram. O sistema começou a voltar às 18h03, mas às 19h20 somente 80% do fornecimento tinha sido normalizado. Contudo, à noite as duas linhas do Rio voltaram a se desligar.

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), segunda maior instância do governo para assuntos de energia, analisará no início da próxima semana as causas do apagão. "Sempre que ocorre um evento como esse, convocamos o CMSE para avaliar o que aconteceu, para saber se foi um problema estrutural ou se houve algum descuido", disse o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner.

Enquanto os técnicos buscavam uma explicação para a queda de energia e tentavam normalizar o abastecimento, a cúpula do setor elétrico era homenageada em um evento em Brasília. Hubner recebeu um troféu da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia (Apine) pela contribuição dada ao setor, e foi citado como a personalidade do ano.