Título: Renan encontra Lula para discutir clima no Senado depois de absolvição
Autor: Ulhôa, Raquel ; Lira, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 17/09/2007, Política, p. A8

presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pode ter hoje seu primeiro encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois de ter sido absolvido pelos colegas, na quarta-feira da semana passada, da acusação de não ter usado recursos próprios em pagamentos pessoais. Se for confirmada a conversa, a pauta não poderá fugir da crise do Senado. Nesta semana, serão definidos os rumos das três outras representações em andamento contra o alagoano.

As versões para o encontro entre Lula e Renan são conflitantes. No Senado, a informação é que o chefe do gabinete pessoal do presidente da República, Gilberto Carvalho, teria telefonado ao pemedebista na quinta-feira dizendo que Lula gostaria de conversar com ele quando chegasse de viagem. Segundo versão do Planalto, Renan é que teria ligado a Carvalho pedindo a audiência. Carvalho teria ligado para Lula, que estava na Dinamarca, e recebido sinal verde. "É só ele pedir, que está confirmado", teria dito o presidente. Carvalho retornou para Renan e a expectativa é que, a partir de hoje, o encontro entre os dois possa acontecer.

Embora não acredite que Lula peça seu afastamento, Renan está preparado para defender a legitimidade de sua permanência no cargo. Governistas alegam que a presença dele no comando das votações causaria turbulências principalmente na apreciação da prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

O senador alagoano argumenta que, apesar da série de erros cometidos por sua defesa durante o processo, permanecer no cargo foi uma estratégia acertada. Preservou o poder e pôde cobrar solidariedade da base governista. Agora que saiu vitorioso do primeiro embate no Senado, Renan vê ainda menos razões para o afastamento, até porque o "calvário" do qual tanto se queixou não terminou.

O presidente do conselho de ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), convocou reunião para amanhã para João Pedro (PT-AM) apresentar parecer sobre a segunda representação contra Renan, também proposta pelo P-SOL, como a primeira. No segundo processo, o senador é acusado de beneficiar a indústria Schincariol com o irmão Olavo Calheiros, deputado pelo PMDB de Alagoas.

O petista sinalizou que pedirá arquivamento por falta de provas, e disse que não sofrerá interferência política. "Preciso ter a minha opinião. Se eu for trabalhar com outras, acabo me anulando. A representação é em cima de matéria jornalística, temos que analisá-la. Não podemos cometer nenhuma injustiça", disse.

Quintanilha defenderá voto secreto no conselho, se o parecer concluir pela quebra de decoro e recomendar cassação. Considera coerente com a Constituição, que exige voto secreto no plenário, em caso de perda de mandato. Foi sua posição na apreciação do parecer de Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS). O plenário do conselho decidiu abrir a votação.

No conselho tem uma terceira representação contra Renan - assinada por DEM e PSDB -, baseada em denúncias do usineiro e ex-deputado João Lyra, de uso de "laranja" na aquisição de rádios e um jornal em Alagoas. Quintanilha não designou relator. Pretende aguardar decisão da Mesa Diretora sobre uma quarta representação - proposta pelo P-SOL -, que acusa Renan de suposta participação em esquema de desvio de recursos em ministérios comandados pelo PMDB.

Quintanilha quer designar apenas um relator para os dois casos. O vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), acredita que Renan encaminhe a ele hoje essa quarta representação. Cabe a Viana convocar a Mesa Diretora para decidir enviá-la ou não ao Conselho de Ética. A reunião pode ser amanhã.

No Planalto, ninguém aposta que Lula fará pedido expresso para Renan deixar a presidência. Assessores palacianos lembram que, no auge da crise, quando a cassação parecia iminente, Lula jamais pediu para que ele deixasse o cargo. "Não seria agora, após a vitória política do senador em plenário, que Lula faria isso".

Assessores do presidente e pemedebistas acreditam que o foco da conversa será o clima político no Senado depois da votação da semana passada. "Renan deve fazer um relato das conversas que terá com a oposição e até que ponto o impasse atual poderá atrapalhar a votação das matérias de interesse do governo", confirmou um assessor do PMDB que acompanha de perto as negociações.

Assessores dos dois lados negam que Renan e Lula tenham conversado nos últimos dias, após a sessão que absolveu o alagoano. "Essa semana, tudo se resolve. Depois de receber o carinho de seu povo, de seus eleitores, Renan volta a Brasília mais revigorado. Se ele vai tirar férias ou não, não sabemos", diz um auxiliar do senador.