Título: Bolívia infla projeção de novos investimentos em gás
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 17/09/2007, Internacional, p. A11

O governo da Bolívia divulgou na sexta que o país receberá US$ 587,8 milhões em investimentos até o fim de 2007. O dado foi considerado por uma petroleira com investimentos naquele país um "esforço de propaganda" do ministro de Hidrocarbonetos e Energia da Bolívia, Carlos Villegas. Em nota, o próprio ministério admite que o montante embute US$ 333,8 milhões em gasto de operação (opex) e que só US$ 254 milhões do total são custos de capital (capex) ou investimento puro. Na realidade os grandes investimentos em exploração e produção naquele país estão parados, depois de terem chegado a um pico em 1999, com mais de US$ 600 milhões aplicados. Já a produção, que era de 42 milhões de metros cúbicos/dia ano passado, estava em 39,2 milhões de metros cúbicos/dia no domingo.

Consultada, a Petrobras informou apenas que vai investir na Bolívia o suficiente para garantir a produção e exportação para o Brasil da parte que lhe cabe no contrato firmado entre os dois países (GSA), garantindo o suprimento diário de 30 milhões de metros cúbicos de gás boliviano, válido até 2019. A estatal lembrou ainda que tem até 2 de novembro para informar ao governo boliviano sua previsão de investimentos para 2008.

Na avaliação do consultor Marco Tavares, da empresa de consultoria Gas Energy, no atual momento todos os novos investimentos na Bolívia para aumentar a produção de gás são uma incógnita. As empresas estão só cumprindo obrigações para manter os níveis de produção ou para cumprir programa exploratório mínimo, como por exemplo a perfuração de um determinado número de poços.

"As empresas estão fazendo apenas os investimentos mínimos necessários para cumprir os contratos que foram assinados no ano passado. Mas mesmo esses contratos estabelecem regras de retorno dos investimentos antes de decidirem pela produção de gás em novos campos já descobertos, como Itaú e Margarita. E as empresas não são obrigadas a investir", lembra Tavares, citando os maiores campos de gás daquele país que ainda não estão produzindo.

Na prática, somente quando esses campos gigantes entrarem em operação, o que ainda não tem data, a Bolívia poderá cumprir integralmente o contrato assinado com a Argentina para exportação de 27,5 milhões de metros cúbicos de gás por dia, sem afetar as vendas ao Brasil e ao mercado doméstico.

A Gas Energy estima que grande parte dos novos investimentos na Bolívia deve vir das empresas Chaco (que tem a BP como sócia), Vintage (controlada pela americana Occidental) e da argentina Pluspetrol. Elas se comprometeram a elevar a produção de campos já existentes e exportar para a Argentina, prevendo chegar a 11,2 milhões de metros cúbicos/dia em 2011.

O compromisso de exportar para a Argentina, aliás, trouxe problemas para a Petrobras e suas sócias Repsol e Total nos campos de San Alberto e San Antonio, atualmente os maiores produtores da Bolívia. Isso porque ao mesmo tempo em que deslocou produção interna para um novo contrato de exportação, o governo obrigou os maiores produtores (leia-se os campos operados pela Petrobras) a atender o mercado interno através de uma resolução, a nº 255.

Com ela, cada metro cúbico de gás que poderia ser exportado por US$ 3,85 - preço na boca do poço sem incluir as tarifas de transporte - é vendido internamente por US$ 1,30 a US$ 1,50 para indústrias e termelétricas bolivianas. "Com isso a receita desaba", diz Tavares.