Título: O PMDB se articula, mostra força e dá o bote
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2007, Opinião, p. A14

Quando é possível ver o PMDB (praticamente) unido? O comportamento do partido na Câmara e no Senado, anteontem, é uma resposta precisa à indagação: quando ele precisa dar uma demonstração de força para aumentar o seu cacife. Enquanto a bancada pemedebista na Câmara ajudava o Executivo a enxugar emendas e destaques à proposta de emenda constitucional (PEC) que prorroga a CPMF para que a Casa finalize a votação em primeiro turno - deixando claro que fazia isso porque o governo tinha prometido entregar a mercadoria, um cargo na Petrobras, apenas depois do pagamento, a votação da emenda em dois turnos -, no Senado o partido, no meio de uma sessão que votou vários assuntos de interesse do governo, derrubou uma única medida provisória: a que criava a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, cujo titular é (ou era) o filósofo Mangabeira Unger, e dispunha sobre a criação de 624 cargos de confiança e 34 funções gratificadas, dos quais apenas 79 comporiam o corpo funcional da nova secretaria.

O PMDB puxou o tapete do governo e de Unger reforçando a oposição com 13 de seus 16 votos. O líder do PMDB, Valdir Raupp (RO), liderou a rebelião. A secretaria foi para o ar pelo voto de 46 senadores.

O partido teoricamente aliado ao governo ajudou também a oposição numa sutil manobra para atrapalhar a votação da CPMF na Câmara: foi feita uma pequena alteração numa MP apenas para que a matéria volte ao plenário da Câmara, trancando a pauta de votações que havia sido liberada às pressas pelo governo para uma apreciação rápida da PEC em dois turnos.

O apoio na Câmara e a rebelião no Senado, interpretarão analistas, mostram um conflito entre as bancadas do PMDB no Senado e na Câmara. Essa interpretação, todavia, é discutível. Não se pode negar que movimentos em direção oposta das duas bancadas têm objetivos convergentes: deixar claro ao governo que a adesão do partido à sua base de apoio é fundamental para aprovação de matérias de seu interesse, em primeiro lugar; e, por fim, lembrar ao seu novo parceiro que apoio tem preço, de preferência com pagamento antecipado.

De quebra, os senadores mostraram um incomum espírito de corpo ao incluir no rol de recados ao governo um de Renan Calheiros, o presidente da Câmara que vem sendo alvejado por várias denúncias, foi absolvido de uma pelo plenário com a ajuda do PT, mas fareja pouca disposição dos senadores petistas de repetirem a façanha de comprometerem-se publicamente apoiando-o com palavras, gestos e votos.

O PMDB que se alia ao governo petista mostrou que continua o mesmo partido: o que tem interesses compartimentados e condiciona seu apoio ao atendimento de todos eles; que dispõe de know-how em pressionar governos com movimentos precisos, em situações onde o seu apoio é fundamental aos interesses do Executivo; e aquele que disputa cada palmo da máquina administrativa - e torna pública suas pretensões como se isso fosse um exercício pleno da democracia.

As trocas feitas na diretoria da Petrobras, que mudou nomes mas manteve o PT em diretorias importantes, foi o pretexto para o comportamento das bancadas pemedebistas. "Estamos dando um crédito ao governo. Se não acreditarmos nele, fica difícil", declarou o presidente do partido, Michel Temer, ao comandar a tropa pemedebista na Câmara no apoio ao governo. O "crédito" é para a promessa de que uma das diretorias da Petrobras iria para o partido depois da votação da CPMF em dois turnos na Câmara. Essa é apenas parte de sua lista de pedidos, que inclui diretorias da Eletrobrás e da Braspetro e superintendências da Funasa nos Estados. "Na volta dessa medida ao Senado espero que o governo tenha reduzido em 50% o número de cargos, para que possamos orientar a bancada a votar a favor", destilou o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), depois de comandar a extinção da secretaria de Unger - como se o seu partido fosse o guardião da austeridade fiscal. Não era essa, no entanto, a preocupação de dez senadores pemedebistas reunidos na véspera na casa do senador Valter Pereira (PMDB-MS). Lá, era a ausência do partido em uma diretoria da Petrobras que movia a articulação dos pemedebistas, além de vários pedidos de nomeações feitos por senadores que não foram atendidos.