Título: Carne argentina sob nova direção
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 18/09/2007, Agronegócio, p. B13

Os frigoríficos brasileiros estão avançando cada vez mais no mercado argentino de carne bovina e, junto com outros gigantes estrangeiros do setor como Cargill e Tyson Foods, já são donos de quase metade das exportações e de 40% da cobiçada Cota Hilton do país, segundo o Consórcio de Exportadores de Carnes da Argentina.

Ontem o Marfrig, terceiro maior frigorífico do Brasil, confirmou estar negociando a aquisição de outros quatro frigoríficos, três na Argentina e um no Uruguai. O Marfrig, que em 2006 havia comprado o Argentine Breeders & Packers (AB&P), negocia agora a compra de 70,51% do maior frigorífico de capital nacional do país, o Quickfood, e o total de ações do Best Beef S.A. e do Estancias del Sur. Também fez oferta por todo o capital do Establecimientos Colonia Ltda., no Uruguai, que pertence à família Bameules, mesmo grupo que controla o Quickfood.

De acordo com o comunicado distribuído ontem pelo Marfrig, a compra das quatro empresas deve custar US$ 266,8 milhões e poderá estar concluída em 50 dias, após um processo de auditoria.

Segundo o Consórcio de Exportadores, os cinco maiores frigoríficos da Argentina detêm entre 45% e 50% das exportações de carne do país. São eles o Swift Armour, que pertence ao brasileiro Friboi, o Finexcor (Cargill), Carnes Pampeanas (Tyson Food), o AB&P e o Quickfood, que também deve passar ao controle do Marfrig. Até julho deste ano, a Argentina exportou 237,5 mil toneladas de carne, com uma receita de US$ 705 milhões.

Entidades ligadas aos frigoríficos da Argentina, disseram ao jornal Clarín que a aquisição dos frigoríficos no país deu aos brasileiros e americanos acesso a pouco mais de 10 mil toneladas da Cota Hilton da Argentina.

Negociada no início dos anos 80 junto com a Rodada Uruguai do Gatt, a Cota Hilton é uma compensação da União Européia a alguns países que tinham histórico de venda à região, entre eles Argentina, Brasil e Uruguai. Por esse sistema, os exportadores podem vender cortes nobres no mercado europeu, livre de barreiras, por um preço que varia de US$ 10 mil a 13 mil a tonelada, o dobro do que se paga pela carne fora da cota. A fatia da Argentina, de 28 mil toneladas, é quase três vezes maior que a do Brasil, com 5 mil toneladas.

O frigorífico Quickfood exporta cortes frescos e carne processada para América Latina, Europa, Ásia e Caribe, com uma participação de cerca de 9% do total exportado pelo país. É dono de 2.000 toneladas de Cota Hilton, que se somam a 1.165 toneladas do AB&P nos ativos adquiridos pela Marfrig na Argentina. No mercado interno, o Quickfood é dono da principal marca de hambúrgueres, Paty, que tem 60% das vendas. E também é comercializada no Uruguai pelo frigorífico Colonia, que tem 45% de participação no varejo, de acordo com o comunicado do Marfrig.

Se a compra das três empresas na Argentina se concretizar, a capacidade de abate do Marfrig no país, que era de 700 cabeças/dia, passará a 3.900. O Swift Armour, com cinco plantas, tem capacidade abate de 6 mil bovinos/dia. No Uruguai, onde tem três unidades, com capacidade 2.700 cabeças/dia, o Marfrig passará a 3.900 animais/dia com o Colônia.

Para o especialista em pecuária do Instituto FNP, José Vicente Ferraz, o avanço dos frigoríficos brasileiros no Mercosul ocorre devido às "margens excelentes" dos últimos anos, quando essas empresas "compraram matéria-prima barata e venderam [carne] caro". Elas aproveitaram o cenário positivo, diz ele, para lançar ações no mercado e ampliar os negócios. Com margens mais apertadas, na casa dos 2% a 3%, afirma Ferraz, frigoríficos dos países vizinhos não resistiram à oferta dos brasileiros. (Colaborou AAR)