Título: Fabricantes brasileiros voltam a ter lucro
Autor: Bispo, Tainã
Fonte: Valor Econômico, 18/09/2007, Empresas, p. B5

Os anos difíceis enfrentados pelo setor de brinquedos parecem estar, aos poucos, ficando para trás. Uma fórmula criada pelas fabricantes nacionais tem tido sucesso na hora de competir não só com os produtos chineses, mas também para chamar a atenção das crianças e para concorrer com a gigante Mattel, que instalou seu escritório no Brasil há nove anos e, desde então, tem impulsionado o setor a uma maior profissionalização - apesar da onda de recalls que tem protagonizado nos últimos meses.

Um dos primeiros passos de algumas fabricantes nacionais foi render-se à importação chinesa, tanto de componentes quanto de produtos prontos, de uma parte do catálogo. Outro fator que tem ganhado cada vez mais importância dentro da linha de produção são os personagens licenciados. Um terceiro ingrediente é a renovação da linha de produtos, que chega a 70% do catálogo.

Essa equação - aliada a uma operação mais intensa da Receita Federal - tem impulsionado as vendas e tirado empresas como as tradicionais Brinquedos Estrela, Grow e Brinquedos Bandeirante do vermelho (ver quadro). A Receita Federal tem papel importante nesse cenário já que as apreensões feitas pelo órgão estão contribuindo para reequilibrar o setor. Entre janeiro e julho deste ano, já foram apreendidos R$ 10,4 milhões em brinquedos em importações fraudulentas. Além disso, o saldo positivo chega num momento em que o setor não possui mais proteção comercial - a salvaguarda, de dez anos, acabou em meados de 2006.

A Gulliver tem trabalhado essa fórmula. "Hoje, as grandes marcas mundiais de brinquedos tem seus produtos, basicamente, fabricados na China. Estes grandes fabricantes, normalmente, são detentores de importantes licenças mundiais. A Gulliver viu neste cenário uma oportunidade de melhorar seu faturamento, representando algumas importantes fábricas e distribuindo seus produtos aqui no Brasil", afirma Paulo Benzatti, diretor comercial da empresa, cujos itens licenciados representam 75% do faturamento da companhia e os importados, 70% da receita.

Mesmo tendo anunciado o recall da linha Magnetix há cerca de duas semanas, a fabricante nacional prevê crescimento de 28% para este ano, somando um faturamento de R$ 55 milhões.

A Grow, dona do jogo War, é outra empresa que reestruturou o negócio. Tradicional em jogos de tabuleiro e quebra-cabeça (que respondem por 60% das vendas), a empresa estima vendas entre 10% a 15% maiores em relação a 2006.

Nos últimos quatro anos, a companhia passou a investir em anúncios na TV, a fazer jogos promocionais para empresas - como os bonecos em miniatura da Disney que são vendidos na rede Cinemark - e deu início à importação de produtos chineses, como a linha Meu Pequeno Pônei. Hoje, os importados representam 20% das vendas. "A renovação (que chega a 45% do catálogo de 350 itens) é importante, assim como acertar nas licenças", afirma Gustavo Arruda, gerente de produto da companhia.

A Estrela, uma das empresas que mais sofreu com a importação de produtos chineses, também demonstra recuperação. "Hoje, trabalhamos com uma linha balanceada com 35% de produtos importados e o restante de fabricação nacional", diz Aires José Leal Fernandes, diretor de marketing da companhia, que este ano está investindo R$ 5 milhões no desenvolvimento de produtos - 10% mais do que em 2006.

A retomada do crescimento do mercado de brinquedos já atrai novos investidores. A Homeplay e Long Jump, por exemplo, foram fundadas em 1998. A Fun Factory, especializada em fantasias e acessórios, chegou ao mercado há três anos. Todas elas já começaram estruturadas em licenciamento e uma parte de importados.

É o caso da Long Jump, que começou como importadora e, desde 2006, tem apostado na fabricação de bichinhos de pelúcia no Brasil - operação terceirizada que chegará a 28% das vendas este ano. Além das licenças, Luiz Fiorini, diretor comercial, aposta em brinquedos de maior valor agregado, como lap-tops e patins.

Já Fun Factory acredita na especialização. Cerca de 35% de seu catálogo é importado, mas Persio de Luca Neto, diretor comercial da empresa, diz que há estudos de viabilidade econômica para trazer essa produção para o Brasil. Com varinhas mágicas da turma do Harry Potter, Luca Neto pretende ter a liderança do segmento de fantasias e acessórios até 2008.

Algumas empresas, porém, demonstram cautela na hora de modificar a estrutura de negócios. A Brinquedos Bandeirante, por exemplo, "importa somente motores para a linha de elétricos". Já a Elka, forte no segmento de jogos de ação e em produtos para crianças de até quatro anos, e a Baby Brink, especializada em bonecas, optaram por uma produção em território nacional - mas apóiam-se em personagens de filmes e desenhos animados. "Nos agarramos ao licenciamento ao longo desses anos", afirma Audir Q. Giovani, superintendente comercial da Baby Brink. A fabricante trabalha com licenças como a da Xuxa e Rebeldes, entre outros, que já somam entre 40% e 50% do faturamento. O executivo estima uma crescimento de 12% na receita deste ano, atingindo R$ 60 milhões.