Título: Clamor é pela manutenção dos juros na reunião de hoje do Fed
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Fonte: Valor Econômico, 18/09/2007, Finanças, p. C2

Charles Plosser: é preciso permitir "correções necessárias dos preços de ativos" Enquanto o Federal Reserve - Fed, o banco central americano - se prepara para sua reunião de hoje, na qual decide se vai baixar as taxas de juros, há como pano de fundo um clamor público inusitado: não faça isso.

Com a crise nos mercados financeiros ameaçando transformar o tombo do setor imobiliário em um desastre econômico mais abrangente, representantes do Fed têm dado fortes indicações de que estão inclinados a cortar a principal referência de juros de curto prazo do país, que está em 5,25%. Wall Street espera um corte de 0,25 ou 0,5 ponto percentual.

Mas, num levantamento não-científico feito pela edição online do Wall Street Journal, 39% das quase 3 mil pessoas que participaram disseram que o Fed não deveria cortar os juros. O levantamento foi anônimo e os participantes poderiam votar mais de uma vez.

De maneira geral, os americanos gostam de taxas de juros mais baixas. Mas muitos deles pensam diferente desta vez. Alguns acham que a economia está indo bem e que inflação é o principal problema. Mas há também um elemento moral: muitos acham que um corte nas taxas recompensaria especulações tolas e a ganância de Wall Street às custas dos poupadores.

"O Federal Reserve precisa ser firme e não socorrer os fundos de hedge - eles é que deveriam saber onde estavam se metendo!", diz Suzanne Mitchell, uma assistente de administração numa imobiliária de Houston, por e-mail. Em entrevista ao "Wall Street Journal", ela completa: "É muito chato que as pessoas tenham feito hipotecas de US$ 450 mil sem dinheiro para a entrada. (...) (Mas) as pessoas têm de ser responsáveis pelos empréstimos que tomam."

"Adiar o dia do acerto de contas vai apenas minar a integridade de nosso sistema", diz Dave Brason, um dos donos de uma empresa que opera centros de saúde domiciliar em Ohio e ao norte do Estado de Nova York. Ele se opõe a um corte de taxas mesmo que isso o beneficie pessoalmente: sua empresa precisa tomar cerca de US$ 20 milhões emprestados para fechar a aquisição de outra empresa por mais de US$ 40 milhões.

Mas ele compara isso com a dependência bem maior em alavancagem, ou uso de dinheiro emprestado, que é típica dos dias de hoje. Alguns "de nós (...) não estavam comprando cinco ou dez propriedades sem nenhuma entrada", diz Brason. "As pessoas assumiram os riscos e deveriam pagar o preço. Muitos outros na ponta de cima da cadeia, os banqueiros de investimento e administradores de fundos de hedge, estavam ganhando muito dinheiro em comissões e, francamente, há muita gente com a opinião de que foi excessivo."

Contatos de primeira mão com exemplos de excesso tendem a fazer com que as pessoas sejam mais duras em suas opiniões. Para Mitchell, foi sentar no avião ao lado de um agente hipotecário que ganhou uma viagem para a Califórnia depois de fechar várias hipotecas "absurdas". Para Brason, foi ouvir um motorista de táxi de Nova York se gabar de comprar e imediatamente revender condomínios em Miami. Ambos acham que suas economias locais estão bem sem um corte dos juros.

Autoridades do Fed devem definir as taxas, como geralmente fazem, de acordo com seus objetivos estatutários de máximo emprego e baixa inflação. É pouco provável que eles mantenham as taxas altas só para punir especuladores. Na visão deles, isso seria como os bombeiros deixarem uma cidade pegar fogo simplesmente para desencorajar o fumo na cama.

De fato, se o presidente do Fed, Ben Bernanke, acreditar que há a possibilidade de que quedas bruscas nos preços dos imóveis afete muito o crescimento econômico, ele deve preferir cortar as taxas agora ao invés de mais tarde.

Apesar disso, autoridades do Fed têm uma certa simpatia à resistência do público a socorros. Um fator em sua decisão deve ser o perigo de que, depois de cortes de juro similares em turbulências financeiras do passado, um relaxamento monetário agora crie "um risco moral" - noção de que proteger as pessoas de conseqüências de comportamento irresponsável encorajaria tal comportamento.

O Fed precisa permitir "correções necessárias de preços dos ativos", disse o presidente do Federal Reserve Bank da Filadélfia, Charles Plosser, em discurso na semana passada. "Fazer o contrário acarretaria o risco de alocação inadequada de recursos e risco, assim como levantaria os problemas do risco moral. Isso, em última instância, poderia aumentar, ao invés de diminuir, os riscos do sistema financeiro."

Alguns economistas do setor privado concordam. Bernard Connolly, economista-chefe da AIG Financial Products, diz que um corte da taxa aumentará "o risco moral e (...) representará a revalidação pelo Fed de um esquema de pirâmide", mas que ainda assim ele é necessário porque "os riscos de permitir que a casa de cartas desabe são simplesmente grandes demais".