Título: México é primeira vítima da freada nos EUA
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Fonte: Valor Econômico, 28/09/2007, Internacional, p. A11

Já se foi o tempo em que a economia mexicana se movia ao sabor do ritmo do preço do petróleo. Desde a assinatura do Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte, entre México, EUA e Canadá), em 1992, é a produção industrial americana que marca o ritmo ao sul da fronteira (veja gráfico abaixo). Quando a economia americana desacelerou em 2001, o México sofreu dois anos de estagnação. Agora, que aumentam os temores de uma recessão nos EUA, vai ser diferente para o México?

Mais de 70% das exportações mexicanas vão para os EUA. A indústria de transformação dos Estados do norte do México devem desacelerar do mesmo modo que as suas similares americanas. Muitos economistas, porém, vêem motivos para esperança de que o país possa agüentar uma pequena recessão americana de uma maneira melhor do que fez em 2001.

Os consumidores mexicanos estão gastando mais do que no passado. Desta vez, as autoridades não terão de coibir o consumo interno. Na verdade, o governo está em boa posição para estimular a economia, caso seja necessário. As finanças do governo estão próximas do equilíbrio; a maior parte da dívida pública está agora denominada em pesos e é de longo prazo. O ainda modesto mercado de crédito do México está em crescimento contínuo; até julho, os empréstimos bancários aumentaram 26%. A construção de casas, apoiada por programas do governo, continua robusta (ao contrário dos EUA).

Além disso, o presidente mexicano, Felipe Calderón, conseguiu aprovar sua reforma tributária na semana passada, o que deve garantir investimentos públicos extras para estradas e outras obras de infra-estrutura.

Ultimamente, muito do investimento externo direto tem ido para os serviços, em vez de para a indústria de transformação. Esse fenômeno deve continuar e vai ajudar a cobrir eventuais déficits em conta corrente.

As autoridades mexicanas acham que a receita com o turismo não vai cair, ainda que a economia americana desacelere. Guillermo Güémez García, diretor do Banco Central, diz que, embora alguns americanos resolvam ficar em casa, outros devem escolher ir para o México, em vez de tirar férias em lugares mais caros e distantes. Ele também ressalta que, já que o peso tem acompanhado o dólar, as exportações mexicanas podem ganhar fatias importantes de mercado do outro lado da fronteira, na batalha com moedas mais fortes.

O Ministério das Finanças ainda acha que a economia do México vai crescer 3,7% em 2008. Héctor Chávez, do banco espanhol Santander, diz que, caso a economia dos Estados Unidos registre um crescimento de 2%, a do México pode chegar a 3%.

Entretanto os últimos dados sobre a economia americana têm feito essas previsões parecerem otimistas. Ontem, a venda de casas novas nos EUA caiu para seu pior patamar em sete anos.

Uma maior desaceleração deve fortalecer a posição do governo, que diz que a indústria estatal de petróleo, centrada na Pemex, que vem sofrendo queda de produção, precisa de reformas e liberalização. Desta vez, a crise - se acontecer - pode ser uma oportunidade.