Título: Dell chega ao varejo no Brasil com Wal-Mar
Autor: Rosa, João Luiz ;Cláudia Facchini
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2007, Empresas, p. B3

Os usuários de computador mais experientes sempre souberam que o único caminho para comprar um equipamento da americana Dell era recorrer diretamente à empresa, fosse pelo telefone ou via internet. Foi esse modelo - o da venda direta ao público, sem intermediários - que sempre caracterizou a companhia e a transformou em uma das maiores fabricantes mundiais de PC. Desde ontem, porém, as máquinas da Dell passaram a estar disponíveis em outro lugar no Brasil: nas gôndolas do Wal-Mart.

Seguindo um movimento iniciado em outros mercados no exterior, a Dell anunciou um acordo para passar a vender seus micros por meio de um parceiro varejista. A ação, que marca o fim da estratégia de venda exclusivamente direta, começou no Estados Unidos e no Canadá, em maio, e se estendeu à Europa e ao Japão. Na segunda-feira, foi a vez da China, onde a Dell fechou acordo com a Gome, uma varejista chinesa especializada em produtos eletrônicos.

Na América Latina, além do Brasil, a Dell também fechou um acordo com o Wal-Mart no México. Mas só no mercado brasileiro as máquinas já estão disponíveis. Os equipamentos só chegam às lojas mexicanas nas próximas semanas.

A princípio, serão oferecidos dois modelos da linha Dimension (E520 e E521), cada um com duas configurações disponíveis: uma mais básica, dirigida ao comprador do primeiro PC, e outra voltada ao consumidor que prefere uma máquina mais sofisticada, a um preço mais alto. Os modelos custam entre R$ 1.799 e R$ 2.299. Ambos são fabricados na fábrica recentemente inaugurada pela Dell em Hortolândia (SP).

"Estamos estruturando nossa estratégia de varejo e (o acordo com o Wal-Mart) é o primeiro passo nesta direção", diz Daniel Neiva, gerente regional da Dell para pequenas e médias empresas.

A fabricante de computadores pretende iniciar nos próximos dias a divulgação de anúncios publicitários sobre a aliança, mas a campanha, que ficará concentrada em jornais e revistas, é reveladora da abordagem que a Dell está dando à sua incursão no varejo.

A empresa quer mostrar ao consumidor que as lojas tornaram-se um canal adicional para adquirir seus produtos, mas sem deixar de enfatizar a importância da venda direta para a companhia. "Estamos anunciando a expansão (para o varejo), mas continuamos a ampliar nossa força de venda interna", diz Neiva. Os serviços de pós-venda e de assistência técnica dos micros vendidos no Wal-Mart, por exemplo, continuarão a ser feitos diretamente pela Dell.

No Brasil, a aliança entre as duas empresas ocorre em uma das fases de maior expansão da indústria de computadores pessoais. A combinação de uma série de fatores - principalmente a desoneração fiscal dos micros produzidos no país, o câmbio favorável à manufatura e a oferta de crédito pelo varejo - colocaram no mercado milhares de consumidores da classe C, que antes não tinham condições de comprar um PC. Só neste ano, a previsão é de que serão vendidos 10,1 milhões de micros no país, um crescimento de 23% em relação a 2006, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).

No Wal-Mart, as vendas cresceram 80% em número de unidades entre de janeiro e agosto na comparação com o mesmo período do ano passado, diz José Eduardo Cabral, vice-presidente comercial da empresa. "Já estamos entre as quatro maiores revendedoras de informática do país", afirma o executivo. A companhia vai oferecer os micros da Dell em 95 hipermercados da rede - incluindo as bandeiras Wal-Mart Supercenter, Big e Hiper Bompreço - além das 19 unidades do atacadista Sam's Club.

Criada em 1984, quando seu fundador Michael Dell ainda era um estudante da Universidade do Texas, a Dell tornou-se sinônimo de venda direta e ocupou a liderança da indústria de computadores com base em princípios que se tornariam quase uma religião: venda sem intermediários, máquinas configuradas sob medida pelo usuário e nenhum estoque de produtos acabados.

O modelo deu à companhia uma grande vantagem sobre os concorrentes, mas nos últimos tempos começou a mostrar sinais de cansaço, à medida que os rivais obtinham ganhos de produtividade e os varejistas se consolidavam como canal de vendas. Nos Estados Unidos, as reclamações sobre a qualidade dos serviços da Dell também afetaram as vendas. Para piorar, a companhia iniciou uma investigação interna que recentemente decidiu pela republicação dos balanços de 2003 até o primeiro trimestre de 2007.

As dificuldades crescentes levaram Kevin Rollins a deixar o cargo de executivo-chefe no início do ano, marcando o retorno de Michael Dell ao comando. Depois da troca, o discurso mudou e, em pouco tempo, a Dell anunciou sua entrada no mercado de varejo.

No Brasil, onde recentemente transferiu sua produção de Eldorado do Sul (RS) para Hortolândia, a Dell decidiu pela estréia exclusiva no varejo com o Wal-Mart. Os planos são de expandir tanto a oferta de produtos como a presença entre os varejistas, diz Neiva.