Título: Copom quer juro ainda mais alto
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2005, Finanças, p. C1

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central chegou a debater, na reunião realizada na semana passada, a hipótese de acelerar o ritmo de alta na taxa básica de juros, em virtude do avanço dos índices de inflação ao consumidor em dezembro. É o que revela a ata divulgada ontem do encontro de janeiro, que elevou a taxa básica de 17,75% para 18,25% ao ano. Mas, em vez de partir para um tratamento de choque, o Comitê decidiu seguir com o processo de aperto gradual na política monetária. No documento, o BC sinaliza ainda que virão novos aumentos, e reafirma a intenção de manter a taxa elevada por um período "suficientemente longo". Pela primeira vez, o Copom deixa claro que discutiu explicitamente a possibilidade de um choque de juros. "Diante da possibilidade de que a dinâmica recente dos preços ao consumidor representasse de fato um agravamento dos riscos à convergência da inflação para a trajetória das metas, o Copom examinou a conveniência de acelerar o ritmo de ajuste da taxa de juros", diz o documento. Entre novembro e dezembro, o IPCA se acelerou de 0,69% para 0,86%. "Houve consenso entre os membros do comitê, entretanto, de que os dados disponíveis no momento não justificariam tal aceleração" da alta da taxa de juros básica. Mais adiante, o Copom volta com seu discurso ameaçador. "Evidentemente, caso venha a se confirmar a hipótese de maior resistência do processo inflacionário à mudança da política monetária implementada desde setembro, ou na eventualidade de se verificar uma exacerbação de outros fatores de risco inflacionário acompanhados atentamente pelo comitê, a autoridade monetária estará pronta para adequar às circunstâncias o ritmo e a magnitude do processo de ajuste da taxa de juros." Na ata, o Comitê também joga um balde de água fria nas previsões do mercado financeiro de que o atual ciclo de aperto nos juros esteja próximo ao final. Entre os analistas econômicos, havia apostas de que, em fevereiro, o BC pudesse fazer um último ajuste no juro básico, de 0,25 ponto percentual, elevando-o para 18,5%. "Os membros do Copom reafirmam a sua convicção de que etapas adicionais do processo atual em curso de ajuste na taxa de juros básica, seguidas de um período suficientemente longo de manutenção dos juros, deverão ser suficientes para trazer a trajetória futura da inflação para o objetivo estabelecido." O BC enxerga um quadro de deterioração na inflação. O alto IPCA de dezembro não é entendido como isolado - para janeiro, o Copom espera um recuo, mas a inflação deverá se "manter ainda em patamar relativamente alto considerando a meta para a inflação de 2005". O comitê dedica vários parágrafos para descrever a deterioração do índice. Assinala que a alta do preços em dezembro não se restringiu aos administrados, mas houve aceleração também da inflação dos preços livres (0,62% em dezembro, ante 0,39% no mês anterior). "Os núcleos (de inflação do IPCA), que já indicavam uma tendência subjacente de inflação incompatível com a trajetória das metas, apresentaram, nos últimos meses, uma trajetória de aceleração", diz a ata. A alta de preços também apresenta um maior grau de difusão: subiram 68% dos produtos da cesta que compõe o IPCA, acima dos 67,8% verificados de novembro, e dos 66,4%, em outubro.