Título: Crédito continuará em alta, diz BNDES
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2007, Finanças, p. A1

Um estudo inédito da área de Pesquisa e Acompanhamento Econômico (Apae) do BNDES prevê um mercado de crédito no Brasil em contínua expansão nos próximos dois anos, saltando dos atuais 33% do PIB para 40,7% no final de 2009. Este crescimento significativo de 8,3 pontos percentuais será impulsionado pelo aumento da participação dos segmentos de pessoa física e habitação no crédito total. A avaliação é dos economistas Ernâni Teixeira Torres Filho, André Albuquerque Sant'Anna e Marcelo Machado Nascimento, autores do trabalho a ser divulgado amanhã. Para eles, o aspecto mais relevante do atual ciclo de expansão do crédito, iniciado em 2004, são as mudanças estruturais em curso, como redução da taxa de juros, alongamento de prazos, aumento do crédito imobiliário e maior oferta nos bancos.

Para Torres, as razões do crescimento do crédito a partir de 2004 estão vinculadas basicamente ao fato de o Brasil ter alcançado estabilidade macroeconômica nos últimos três anos. "A baixa inflação tinha sido conseguida há dez anos, mas veio acompanhada de grande instabilidade, como as crises do México em 94, da Ásia e da Rússia e a turbulenta eleição do Lula em 2002. Depois de 2004 deu-se a virada. A mudança no cenário internacional, a introdução da China no mercado mundial melhorando muito a liquidez brasileira, reduziu a tensão. Estamos entrando num círculo virtuoso com juro em queda , empresas pagando suas dívidas e um nível de atividade crescendo devagar e sempre, o que tem como resposta emprego, salário e aumento da renda", destacou o superintendente da Apae. Para o economista, neste ambiente positivo de um quadro econômico que melhorou o nível de confiança das famílias e das empresas, que passaram a consumir e a investir mais, os bancos foram induzidos a mudar suas estratégias.

Neste cenário, o volume de crédito em relação ao PIB tem se expandido de forma continuada, passando de 23,3% em janeiro de 2004 para 32,7% em julho deste ano. Isto gerou mudanças no perfil do mercado. Os economistas enfatizam a grande a contribuição da redução das taxas médias para créditos livres, que caíram de 46,1% para 35,9% entre janeiro de 2006 e julho de 2007 para destravar os empréstimos bancários. Neste período, o prazo destes financiamentos, tanto para pessoas físicas, quanto jurídicas, alongou de 266 para 331 dias corridos. O resultado foi expansão geral do crédito em todos os segmentos econômicos, à exceção do setor público.

A liderança neste ranking fica com os empréstimos para as pessoas físicas, que contribuiu com 42,5% para o crescimento do crédito total para o setor privado entre 2005 e julho de 2007. Neste quesito, as operações de crédito para consumo das famílias são puxadas pelo crédito pessoal consignado em folhas e compra de automóveis. "O carro é o campeão do crédito de pessoa física", destacou Ernani Torres. Segundo levantamento feito pelos economistas da Apae, a aquisição de veículos e leasing, operação também usada para esta finalidade, cresceram entre dezembro de 2005 e julho de 2007 a taxas anuais entre 25% e 74,2%, respectivamente.

Para os próximos dois anos, a avaliação dos economistas é que o crescimento do crédito será puxado em boa parte pelo crédito habitacional, já que a atividade está explodindo no país. Hoje, os empréstimos para moradia respondem por apenas 1,7% do PIB.