Título: Vale empata com Petrobras em valor e leva índice aos 61 mil pontos
Autor: Camba, Daniele
Fonte: Valor Econômico, 28/09/2007, EU & Investimento, p. D1

Mais um dia de euforia para ficar na história. Mal o pregão abriu e o Índice Bovespa já tinha ultrapassado a marca dos 60 mil pontos. Era um presságio de que o dia prometia emoções. O Ibovespa fechou na máxima do dia, em 61.052 pontos, novo recorde, em alta de 2,24%. Uma valorização impulsionada pelo ganho das ações da Vale do Rio Doce. As preferenciais (PN, sem voto) da mineradora fecharam em alta de 4,33%, a R$ 53, acima do preço considerado justo pela média dos analistas, de R$ 52,40. Já as PNs da outra gigante do pregão, Petrobras, subiram 0,83%.

Com esse desempenho, o valor de mercado (cotação multiplicada pela quantidade de papéis) da Vale encosta no da Petrobras pela primeira vez na história. Segundo levantamento do Valor Data, com o fechamento de ontem, o valor de mercado da mineradora é de R$ 291,1 bilhões e o da Petrobras é de R$ 291,2 bilhões, empate técnico.

Se depender da expectativa dos analistas e das projeções para as duas companhias, esse é só o começo do processo que levará a mineradora desbancar o reinado da petrolífera, consolidando-se de vez como a maior companhia do mercado brasileiro. "A Vale vem crescendo como nunca, com estratégias acertadas, e deve se beneficiar ainda mais com o reajuste do minério de ferro para 2008, de no mínimo 20%", lembra o chefe de análise de uma corretora. "A Petrobras, que também ganha com o aumento de petróleo, no entanto, vem sofrendo com alguns problemas na sua gestão", completa o executivo. Ele lembra que as ações da empresa sempre foram negociadas com um desconto por ser uma estatal, mas que isso se acentuou nos últimos anos.

O desempenho dos papéis nos últimos 12 meses reflete bem os destinos opostos que tiveram as duas companhias. As PNAs da Vale subiram 173,8% enquanto que as PNs da Petrobras, 58,42%, próximo aos 69% do Ibovespa no período. Quem olhasse a mineradora há seis anos não acreditaria que um dia ela seria grande o suficiente para ameaçar a liderança até então incontestável da petrolífera. Em dezembro de 2001, o valor de mercado da Vale era de R$ 20,4 bilhões ante os R$ 56,4 bilhões da Petrobras. Em 1997, quando a Vale foi privatizada, seu valor de mercado era de R$ 8,4 bilhões ante R$ 23,5 bilhões da Petrobras.

Desgraça que vira alegria

Por mais contraditório que pareça, e realmente parece, foram os números ruins da economia americana que deram novo gás ao mercado. Um analista explica essa lógica. "Cada mau desempenho dos indicadores da economia real, pior do que o imaginado, pode ser capitalizado como algo positivo, abrindo espaço para novos cortes dos juros americanos", disse em relatório o economista-chefe da Lopes Filho e Associados, Júlio Hegedus Netto. Em outras palavras, o investidor triunfa com a desgraça atual da economia americana, já imaginando o quanto irá ganhar com a queda dos juros que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) terá de fazer para frear o desaquecimento dos EUA.

Mesmo com números ruins na economia americana, o fluxo dos fundos dedicados aos mercados emergentes segue intenso e sugere que os gestores começam a separar o crescimento dos EUA daquele que pode ser observado nas demais economias, diz o analista da Prosper Gestão de Recursos Gustavo Barbeito. No Brasil, há indícios, nos mais diversos setores, de que a expansão da atividade está garantida. De 16 de agosto, auge da crise, até agora, o Ibovespa subiu 27%.