Título: Ecos da crise
Autor: Fariello ,Danilo
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2007, EU & Investimento, p. D1

A crise que abala o mercado financeiro mundial desde o último mês, e incentivou os investidores a procurarem proteção, levou a uma captação recorde de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) em agosto, de R$ 8,9 bilhões. As cadernetas de poupança também tiveram forte procura e registraram o segundo melhor mês do ano, com depósitos líquidos de R$ 3,2 bilhões. E essa reviravolta, que reduziu o apetite por renda variável e fundos de renda fixa, se mantém nas primeiras semanas de setembro, dizem especialistas de mercado.

O comportamento dos CDBs - papéis emitidos pelos bancos que pagam juros prefixados ou atrelados ao CDI - reforça o movimento detectado nos fundos de investimento. Em agosto, os fundos de renda fixa, que tiveram perdas por conta da parcela aplicada em títulos prefixados em suas carteiras, apresentaram R$ 6,2 bilhões em resgates, o primeiro saldo negativo mensal no ano. Enquanto isso, os fundos DI, mais conservadores, tiveram recorde de captação em agosto, com R$ 4,2 bilhões.

Há muito tempo os investidores de fundos de renda fixa não viam perdas como as registradas em alguns dias de agosto e foram pegos de surpresa, explica David Cohen, operador de renda fixa da instituição financeira CR2. No mês, os fundos de renda fixa renderam 0,84%, menos que os 0,98% dos DIs. E, por questões psicológicas, alguns pequenos aplicadores tendem a procurar agora aplicações que não revelam essa volatilidade mais forte, como os CDBs e a caderneta de poupança, diz Sandro Barone, gerente da área técnica da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima). "Como os fundos registram a variação diária dos papéis, o aplicador percebe as perdas."

Este é mais um alerta de que mesmo as aplicações em renda fixa têm risco, e serve para muitos refletirem se não estão se expondo demais, avalia Antonio Carlos Ferreira Teixeira, superintendente-geral da Cetip. "É importante que os investidores diversifiquem suas aplicações em renda fixa para minimizar o risco, distribuindo recursos entre fundos, CDBs, debêntures, títulos do governo e até na caderneta."

Segundo Marcos Villanova, responsável pela área de produtos de investimento do Bradesco, houve alguma migração de investidores dos fundos mais agressivos para os mais conservadores. E cerca de R$ 4 bilhões saíram do setor de fundos no mês passado para outros rumos no mercado, diz Marcelo D'Agosto, do site Fortuna. "Há muito investidor ainda aguardando uma definição de tendência para saber qual rumo tomar."

Para Fabio Lenza, vice-presidente de Pessoas Físicas da Caixa Econômica Federal, este é um momento de insegurança para os investidores. Mas, segundo ele, ao contrário do que ocorreu nos fundos, a captação da caderneta de poupança continua de vento em popa. "Com a queda dos juros, muitos passaram a ver a caderneta como alternativa de investimento, e não apenas uma opção para pequenos poupadores", diz Lenza. Neste mês, conta ele, até terça-feira, apenas a Caixa já captou mais R$ 880 milhões na caderneta.

Em termos gerais, no primeiro semestre, a caderneta apresentou o primeiro período com captação desde 1995. Além de a rentabilidade ter melhorado em relação a outras aplicações com o juro mais baixo - que abala mais os fundos - e contar com o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), agora investidores passam a notar a vantagem da ausência de oscilação da caderneta, diz Teixeira, da Cetip.

Apesar das reviravoltas do mercado e da forte volatilidade, alguns especialistas acreditam que agora seja o momento de recuperar as perdas ou acelerar os ganhos nas aplicações mais agressivas de renda fixa. Há títulos do governo prefixados com prazos longos - que podem ser adquiridos pelo Tesouro Direto ou pelos fundos de renda fixa - oferecendo taxas acima de 12% ao ano, enquanto a Selic está em 11,25% ao ano, diz Cohen, do CR2. "Agora é o momento da volatilidade a favor, em que o investidor deve ter peito para esperar o mercado se recuperar", diz ele.

Porém, outros especialistas não são tão otimistas. Para Teixeira, da Cetip, a crise pode estar ainda no seu começo e as oscilações recentes do mercado devem servir para os aplicadores avaliarem se toleram mesmo o risco da exposição em renda fixa. "É preciso lembrar que qualquer aplicação tem risco e que nenhuma calmaria é eterna", afirma o executivo, que conta com 33 anos de experiência no mercado financeiro.