Título: BC deve parar o corte nas taxas, indica ata
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2007, Finanças, p. C2

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central chegou a considerar a opção de manter a taxa básica de juros inalterada na sua reunião da semana passada. Mas, no fim, decidiu por unanimidade reduzir os juros em 0,25 ponto percentual (pp), para 11,25% ao ano, o que já representou uma desaceleração em relação ao ritmo de cortes de 0,5 ponto percentual adotado nas reuniões anteriores.

A informações constam da ata da reunião da semana passada, divulgada ontem pelo Copom. "O Copom considerou a opção de manter a taxa básica de juros inalterada", diz a ata. "Apesar de entender que vários fatores respaldariam manter a taxa de juros inalterada já nessa reunião, o comitê avaliou o cenário macroeconômico e considerou que, neste momento, o balanço de riscos para a trajetória prospectiva da inflação ainda justificaria estímulo monetária adicional."

A ata divulgada ontem consolidou entre os analistas econômicos a convicção de que o BC irá interromper o processo de flexibilização monetária em sua reunião de outubro.

"A ata sinaliza de forma cristalina que o Copom vai interromper a queda dos juros", afirma o economista-chefe da Gap Asset Management, Alexandre Maia. "O BC deverá observar a inflação nos próximos quatro ou seis meses, para só então retomar os cortes de juros."

"O recado claro da ata é que o BC vai parar os cortes de juros", afirma o economista-chefe da Mauá Investimentos, Caio Megale. "É improvável que, até outubro, sejam divulgados dados que dissipem os riscos inflacionários apontados pelo BC."

Na ata, o BC diz que, "visando consolidar um ambiente de estabilidade e previsibilidade, o Copom tem optado por uma estratégia que procura evitar uma trajetória inflacionária volátil". Analistas econômicos entenderam que, nesse trecho, o BC diz que vai procurar evitar que um eventual superaquecimento da economia leve a a uma disparada na taxa de inflação, que, em seguida, necessite ser combatida com uma política monetária um pouco mais restritiva.

O BC também afirma na ata que "a contribuição do setor externo para consolidar um cenário inflacionário benigno pode estar se tornando menos efetiva". Nas duas reuniões anteriores, o Copom havia feito cortes maiores nos juros justamente porque acreditava que o setor externo - ou seja, as importações - poderia atender à crescente demanda interna e ajudar, via importação de bens de capital, ampliar a capacidade de oferta da economia.

Pelo diagnóstico do BC, "se elevou a probabilidade de que a emergência de pressões inflacionárias inicialmente localizadas venham a apresentar riscos para a trajetória de inflação doméstica, uma vez que a o aquecimento da demanda pode ensejar aumento de repasse de pressões sobre preços no atacado para os preços ao consumidor".

A ata também diz que as projeções de inflação do BC pioraram. Na sua projeção para 2008, período que se torna cada vez mais importante para as decisões de política monetária, a projeção do Copom no cenário de referência (que pressupõe juros em 11,5% e câmbio em R$ 1,95) "foi sensivelmente maior do que o valor previsto na reunião de julho". Mesmo assim, informa a ata, a projeção continua abaixo da meta de 4,5% fixada para 2008.