Título: China reforça necessidade de uma estratégia nacional
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2007, Brasil, p. A4

Num painel sobre a importância de uma estratégia nacional de desenvolvimento para o Brasil, o advento da China na economia global ocupou ontem boa parte das discussões no 4 Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo. Os economistas e empresários insistiram na necessidade de o país adotar políticas que incentivem a indústria e a exportação de produtos manufaturados para crescer sustentadamente a taxas elevadas, de modo a não perder cada vez mais espaço para os concorrentes asiáticos, como a China. Mais uma vez, o câmbio valorizado e os juros altos foram apontados como os grandes vilões do atraso brasileiro, secundados pela alta carga tributária.

O ex-ministro Delfim Netto atacou a idéia de que o país poderá manter taxas de crescimento elevadas por muito tempo concentrando seus esforços na produção e na exportações de commodities agrícolas e minerais. Segundo ele, é indispensável que o Brasil tenha uma estratégia bem definida para o desenvolvimento e as vendas externas de produtos manufaturados, o que depende muito de uma taxa de câmbio mais competitiva. Ele mostrou que, entre 1980 e 1984, o país tinha 1,2% das exportações mundiais, ao passo que a China tinha 1,1%. No período entre 2002 e 2006, a fatia chinesa pulou para 7%, enquanto a brasileira ficou quase estável, caindo para 1,1%. "Não há possibilidade de o Brasil ter crescimento robusto se não acelerar a exportação de manufaturados", disse Delfim.

O economista Antônio Barros de Castro, consultor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ressaltou a importância e o impacto da China na economia global, dizendo que o país asiático respondeu por 29% do crescimento global entre 2002 e 2006. Ele lembrou que o advento da China beneficia muito alguns setores da economia brasileira, como produtores de commodities minerais e agrícolas. Para a indústria, o cenário é mais complicado, e há alguns casos em que seria melhor o país desistir de tentar concorrer com os chineses, como em ventiladores, , rádio-relógios, calçados populares, entre outros.

Barros de Castro, contudo, acredita que há espaço para diferenciação em outros nichos, como o de calçados não-populares, por exemplo, e vê possibilidades interessantes nas cadeias produtivas dos setores produtores de commodities. Ele citou o caso da indústria do petróleo e, principalmente do, etanol.

O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Marcelo Nonnenberg analisou alguns fatores que explicam o sucesso do modelo chinês, destacando que muitos deles são impossíveis de serem replicados por outros países. Além do câmbio desvalorizado e dos juros baixos, ele lembrou que as altas taxas de poupança e o baixo custo da mão-de-obra são fundamentais para o crescimento da China.